domingo, junho 11, 2006

TOMAR PARTIDO PELA DIGNIDADE HUMANA

Terminei na semana passada a minha referência às palavras do Papa Bento XVI em Auschwitz, acrescentando que temos de permanecer vigilantes. Alguns factos deram-me infelizmente razão.
Esta foi uma semana que começou de forma lamentável com as declarações de um elemento de extrema-direita na RTP, passou pela participação de elementos de organizações xenófobas e racistas numa manifestação sindical de polícias e terminou no dia em que passam 11 anos sobre o assassinato por racistas do português negro Alcino Monteiro e um ano sobre a invenção por uma certa imprensa do pseudo arrastão de Carcavelos.
Contudo, há motivos de esperança, há gente que continua a tomar partido pela dignidade humana e lutar contra o reino da estupidez.
Desde logo, considero que os dirigentes sindicais da polícia que se recusaram a desfilar com racistas e xenófobos, merecem elogio. São cidadãos e organizações que merecem respeito e as suas razões devem se ponderadas seriamente. A sua atitude deu-lhes credibilidade e autoridade moral.
É necessário que todos os democratas assumam como um princípio incontornável na sua luta política que, por maior que sejam as divergências que tenham entre si, nunca esquecerão que o inimigo da dignidade humana, do Estado de direito democrático, é a extrema-direita racista e xenófoba, relativamente à qual não pode haver qualquer comportamento que não seja o de rejeição activa.
Seria bom que a imprensa aprendesse a distinguir patriota, nacionalista, fascista e nazi.
De Gaulle era um democrata, um nacionalista ou um patriota francês, os seus inimigos eram os franceses que colaboravam com a Alemanha nazi, que eram internacionalistas e faziam sua a política racista dos ocupantes alemães com os quais colaboravam.
Seria útil que a comunicação social quando se refere a membros de algumas organizações racistas recordasse, por exemplo, que os que pertencem a organizações com denominações tão esclarecedoras como “Portugal Hammerskin” são nazis e não meros nacionalistas.
Gostaria de chamar a atenção para o artigo de Rui Tavares publicado no Público, de 10 de Junho, intitulado, “O que há numa data”, em que evoca, designadamente, o assassinato de Alcino Monteiro e o pseudo arrastão de Carcavelos.
Não posso também deixar de me manifestar solidário com a atitude do actual Alto Comissário para a Imigração e Minorias Étnicas, Rui Marques, relativamente à forma como o “Expresso” noticia o seu pedido de desculpas pelos danos morais causados pela falsa notícia do pseudo arrastão de Carcavelos. Em primeiro lugar não é “Alto Comissário das minorias”, mas sim Alto Comissário para a Imigração e Minorias Étnicas. Depois é lamentável como com base em fontes anónimas procuram desqualificar as suas apreciações. Agiram de acordo, com os procedimentos bem descritos por Manuel Maria Carrilho no seu livro “Sob o Signo da Verdade”.
As Religiões, como naturalmente as forças laicas ou ateias que perfilhem valores democráticos, têm responsabilidades na formação das consciências para o respeito da igualdade e dignidade de todos os seres humanos.
Nesta linha há boas notícias. A publicação do excelente livro “Religiões - História, Textos e Tradições” da responsabilidade de Religare-Estrutura de Missão para o Diálogo com as Religiões, que tem como principal responsável Miguel Ponces de Carvalho.
Só o conhecimento evita ou dissolve o preconceito. Este livro permite aos cidadãos em geral conhecer melhor o que vivem os crentes das religiões abrangidas neste livro, que estão presentes na sociedade portuguesa. Refiro-me ao hinduísmo, ao judaísmo, ao budismo, ao cristianismo, ao islão e à fé bahá’í. É um livro de grande rigor, elaborado com a supervisão religiosa/institucional de membros qualificados das diferentes religiões É uma experiência muito enriquecedora a sua leitura. Tem apenas, um senão. A ausência de referência ao animismo que é a religião de muitos africanos residentes em Portugal e que está presente nas crenças e na vivência inclusive de alguns que se confessam cristãos ou muçulmanos. Valia a pena estudar esta questão e reunir o que já existe.
Quero também saudar o artigo de Esther Mucznik, intitulado “Reconciliação” a palavra necessária, Público, 9 de Junho de 2006, no qual afirma designadamente que tal como a ida de João Paulo II ao Muro das Lamentações, a presença de Bento XVI em Auschwitz teve um significado histórico que ultrapassa largamente as suas palavras e que termina desta forma: «A palavra “reconciliação” ainda não sai com facilidade, ainda queima muitos lábios. Mas só ela permite construir um futuro diferente».

PS. Contribuir para um futuro diferente, melhor, em que seja respeitada a igualdade e a dignidade de cada ser humano, promovendo a inclusão e a cidadania, são os objectivos desta intervenção através deste blogue. Comecei faz hoje dois anos esta aventura através de um blogue inserido no parlamento.pt, cujos textos, estão recolhidos no actual endereço. Agradeço as provas de simpatia de muitos colegas da blogosfera que se têm referido a este blogue. Espero, em breve, retribuir, com mais alguns links para blogues que entenderam fazê-lo relativamente a este.
É muito gratificante saber que tem crescido muito o número dos que nos visitam e que este é um blogue cosmopolita em que o número dos que nos visitam de fora de Portugal tende a ser cada vez maior com destaque para os do Brasil, mas vindos também de vários países europeus, dos Estados Unidos da América, de Moçambique, do Kenya, de Angola, do Suriname e do Japão. Seria interessante que a vossa visita não fosse silenciosa e nos trouxesse as vossas opiniões ou as vossas perguntas. Os que já o fizerem contribuíram para enriquecer este blogue.
Pela nossa parte procuraremos fazer melhor, tomando sempre o partido da dignidade da pessoa humana e procurando agir em espírito de fraternidade.

4 comentários:

jomanros disse...

PARABÉNS!!!
São 2 anos de um grande blog. São 2 anos a defender os direitos de todas as cores, raças e credos. São dois anos de luta pela defesa de minorias que nas suas nações são maiorias que acolhem sempre os portugueses com muita amizade. Por experiência própria sei que é muito difícil manter um blog. E logo um blog com este nível. Conciliar as horas de trabalho com as horas no blog, em prejuízo do repouso, da própria família, do contacto com os amigos, é OBRA!
Na realidade é preciso "TOMAR PARTIDO PELA DIGNIDADE HUMANA".

Luís Novaes Tito disse...

Com um abraço, deixei uma nota no Tugir.
Parabéns pelo 2º Aniversário.

Carminda Pinho disse...

Conheço-o há alguns anos, sempre os mesmos ideais, sempre as mesma lutas.
Agora na blogoesfera, vou continuando a acompanhar o seu pensamento através da sua escrita.
Que cá continue por mais anos.
Um abraço solidário.

Marco Oliveira disse...

Parabens e obrigado por este blog.