domingo, junho 03, 2007

CONSEGUIR O IMPOSSÍVEL




Este é o título do livro que relata a campanha presidencial de Manuel Alegre, que foi apresentado por Manuel Villaverde Cabral na passada semana.
A campanha é contado por muitos que a viveram, como o próprio Manuel Alegre, que explica como surgiu a candidatura, e por Henrique de Melo, Luís Moita, António Pina Pereira, Joana Melo Antunes, Luís Novaes Tito, Teresa Rita Lopes, Nuno Júdice, tendo sido coordenado por Helena Roseta, Manuel Júdice e Nuno David.
Manuel Villaverde Cabral, que assumiu ter votado em Manuel Alegre, afirmou que nenhuma das outras candidaturas poderia ter feito um livro parecido e que vai ser utilizado pelos cientistas sociais, mesmo tomando as devidas distâncias relativamente aquilo que nele resulta de um envolvimento mais emocional dos autores. O livro testemunha, em seu entender, novas formas de fazer política e novos conteúdos.
A relação entre o conteúdo e a forma de fazer política esteve, aliás subjacente a esta intervenção e à curta intervenção de Manuel Alegre, tendo presente o ensinamento de Gramsci, segundo o qual só há um conteúdo, que é o conteúdo da forma.
Em certos momentos, em certas circunstâncias, há necessidade de outros espaços de intervenção política, como referiu Manuel Alegre.
A campanha demonstrou, que ao contrário de análises apressadas que tendem a descrever os cidadãos como desmobilizados e resignados a escolhas pré-determinadas, os cidadãos têm o poder de se auto-organizarem torno de um candidato que deu voz a inquietações, esperanças e aspirações largamente partilhadas. Cidadãos das mais diversas origens, idades e profissões colaboravam espontaneamente dando a sua disponibilidade possível.
Demonstrou também que é possível fazer política com pouco dinheiro, gerido com rigor e seriedade.
É importante que um livro como este tenha sido escrito. Sabemos que a multiplicidade de informação hoje existente vai a par de uma amnésia selectiva e o que aconteceu foi uma experiência política muito rica não só para os que com ela se identificaram que não pode ser ignorada.
A importância dos novos meios de comunicação, a Internet e os blogues, os e-mails, os SMS, tiveram um papel nesta campanha como até aí nunca tinha acontecido.
Desde logo na recolha de assinaturas, mas também na criação de redes de apoio à candidatura.
Nuno David aborda “A Internet e movimentos emergentes nas campanhas eleitorais”. São igualmente publicadas várias postagens do blogue “O Quadrado”, que adoptou o título de um conto publicado por Manuel Alegre no Jornal “Expresso” e que muito contribuiu para a criação de um movimento favorável à candidatura de Manuel Alegre e no qual colaboraram entre outros Paula Mourão, Mário de Carvalho, Inês Pedrosa, João Gobern, Carlos Brito ou José Jorge Letria.
“O papel do blogue Alargar a Cidadania na campanha de Manuel Alegre: Conceito em rede” é também desenvolvido por Luís Tito, a quem se deve esta experiência política totalmente inovadora. A ideia de base foi em vez de criar um novo blogue convencional, partindo do facto de em diversos blogues haver manifestações de apoio à candidatura, criar um pólo agregador, chamando atenção por hiperligação e publicando excertos para textos editados noutros blogues.
Luís Tito demonstrou desta forma uma vez mais a sua capacidade de utilizar as novas tecnologias de informação, como o fizera anteriormente noutra iniciativa política a nível de uma secção de base do Partido Socialista.
Outra das novidades a assinalar foi a conjugação das competências de pessoas com trajectos muito diferentes, vindas da actividade política partidária, do futebol, da universidade, do mundo editorial e das empresas de forma a acrescentar eficácia à campanha.
A capacidade de Manuel Alegre de estar aberto ao novo e ao inesperado deve ter surpreendido os que o não conhecem bem. Tudo isto tornou o impossível quase possível.
Uma pequena nota para saudar o facto de ter havido a preocupação de fazer justiça a todos os participantes mais activos, que têm seguido caminhos diversos depois desta campanha em que estiveram juntos. É também uma forma séria de agir politicamente com verdade e seriedade. Só tenho pena que, ao que julgo, por critérios editoriais, não ter sido transcrita a composição da Comissão de Honra da candidatura que pode ver aqui. Seria um acto de justiça ao seu empenhamento cívico.
Estou certo, que todos lerão com atenção e proveito este livro. Mesmo os actores destes processo colectivo têm muita coisa a apreender e a reflectir ao ler um livro escrito a várias mãos sobre a campanha presidencial, em que participaram com entusiasmo e que recordam de forma tranquila com a sensação de terem feito o que tinham de fazer.

3 comentários:

João Gomes disse...

Camarada,

Durante a campanha de Manuel Alegre, estava eu do outro lado da barricada a fazer, entusiasticamente diga-se, campanha por Mário Soares no MP3 (movimento de jovens). Reconheço a qualidade da esquipa que rodeu Manuel Alegre, sei também das qualidades políticas do poeta, mas não consegui, nem consigo compreender essa candidatura. Tal como hoje, também difícilmente conseguirei compreender a candidatura de Helena Roseta à CML.
Mário Soares sempre foi um ícone do Partido Socialista e o José Leitão, como ex-secretário-geral da JS, sabe-o melhor que ninguém. Se somos todos PS, é em momentos como aqueles que não deveriamos ter virado as costas, como muitos o fizeram, a Mário Soares. Acredito convictamente que se não tivesse havido a candidatura de Manuel Alegre, muito provavelmente Mário Soares teria ido a uma segunda volta.

Saudações socialistas!

João Gomes
http://aquelaopiniao.blogspot.com

José Leitão disse...

Caro Camarada,
Li com agrado o seu comentário, apesar de dele discordar, porque continuo convencido que Manuel Alegre era o único candidato que poderia ter derrotado Cavaco Silva. Há um tempo para tudo e este não é o de discutirmos as nossas posições sobre essa matéria.
Para perceber porque apoiei Manuel Alegre poderá ler os textos que editei neste blogue em 6 de Novembro e 11 de Dezembro de 2005. Foi uma decisão ponderada, porque sou membro fundador do PS e da JS e tenho muito respeito por Mário Soares que apoiei, com entusiasmo que não renego, em batalhas decisivas para a consolidação da democracia.
Nada lhe poderei dizer sobre as razões de Helena Roseta, pessoa amiga, inteligente e séria, cuja candidatura não apoio.
No que respeita às eleições para a Câmara de Lisboa, estamos do mesmo lado, na candidatura de António Costa.
Saudações socialistas
José Leitão

João Bernardo disse...

Caro João Gomes,

Sou republicano e considero-me socialista, embora não seja militante nem simpatizante do PS. Se no passado, ainda alimentava ilusões de que o partido socialista era um partido de esquerda plural, onde as diversas sensilibilidades coexistiam de forma verdadeiramente democratica e onde os valores republicanos faziam efectivamente parte da sua matriz ideológica, o episódio da candidatura de Manuel Alegre, veio-me mostrar que o vosso partido limita a discussão interna, condiciona as opções do militantes, estabelece feudos pessoais, continua ainda agarrado às figuras tutelares, como é o caso de Mário Soares. O comportamento de certos socialistas com lugares políticos ou com responsabilides políticas na administração pública faz-me crer que vocês podem não expulsar aqueles que discordam da direcção, como parece que fez o PCP, mas ostracizam os que têm psições diferentes da direcção, retiram-lhes espaço de manobra. Como é possível que um partido que se diz republicano, venha apoiar a candidatura de alguém que já fez dois mandatos presidenciais? Não tinham mais ninguém? Mas até tinham! Manuel Alegre, mas não o quiseram. Não era pessoa para oferecer a cooperação estratégica que Cavaco Silva dizia oferecer? Seria demasiado independente face ao partido? Lembraria o executivo que não se poderia esquercer que era apoiado na AR por uma maioria socialista, que deveria ter políticas socialistas? Honestamente, estou em crer que há muita gente no vosso partido que sempre preferiu Mário Soares ou Cavaco Silva a Manuel Alegre e que ficaram muito contentes por não haver segunda volta, mas este socialista que foi contra a vontade do próprio partido teve mais votos do que Mário Soares e como diz Manuel Alegre, a República não tem donos nem vencedores antecipados.

Saudações republicanas