domingo, março 02, 2008

MEMORIAL ÀS VÍTIMAS DA INTOLERÂNCIA

Prevenir e combater a intolerância é uma exigência ética que radica no facto que todos os seres humanos nascem livres e iguais em dignidade e em direitos, sendo dotados de razão e de consciência devem agir uns para com os outros em espírito de fraternidade, na formulação feliz do art.1.º da Declaração Universal dos Direitos Humanos.
Evocámos aqui aquando do repúdio pela profanação de túmulos judaicos em Lisboa a as palavras do Padre Peter Stilwell, em nome da Igreja Católica de Lisboa, de que era necessário ir mais longe nesse repúdio, acrescentando: «Seria bom, neste contexto, retomar a proposta da Comunidade Israelita, secundada pela Igreja Católica, de fixar no centro de Lisboa, de preferência na Praça de São Domingos, um monumento que evocasse simultaneamente a violência passada contra os judeus residentes nesta cidade e o memorável gesto aí realizado no ano dois mil de conversão e reconciliação da comunidade católica com a comunidade judaica, sua irmã mais velha».
A cidade de Lisboa foi palco no passado de dramáticas perseguições contra judeus portugueses, sendo o episódio mais dramático o ocorrido nos dias 19, 20 e 21 de Abril de 1506, que teve início junto ao Convento de São Domingos, (actual Largo de São Domingos), no qual cerca de dois mil lisboetas, por mera suspeita de professarem o judaísmo foram barbaramente assassinados e queimados em duas enormes fogueiras no Rossio e na Ribeira, como pode recordar aqui.
É por isso com júbilo que assinalo que a Câmara Municipal de Lisboa aprovou por unanimidade, no passado dia 30 de Janeiro de 2008, a instalação de um Memorial às Vítimas da Intolerância, com base numa proposta subscrita pelos vereadores do Partido Socialista, da Lista “Cidadãos por Lisboa” e do Bloco de Esquerda.
A Câmara Municipal de Lisboa deliberou:
«1. Instalar na cidade de Lisboa um Memorial às Vítimas da Intolerância, evocativo do massacre judaico de Lisboa de 1506 e de todas as vítimas que sofreram a discriminação e o aviltamento pessoal pelas suas origens, convicções ou ideias:
a) O Memorial localizar-se-á no Largo de São Domingos e deverá ser composto por um mural evocativo das vítimas da intolerância, cuja concepção, execução e instalação competirá aos serviços municipais;
b) Esta intervenção contemplará, igualmente, o arranjo da área envolvente e incluirá a colocação no mesmo Largo, de elementos escultóricos contributos das comunidades católica e judaica;
c) A inauguração do Memorial terá lugar no dia 19 de Abril de 2008, em cerimónia promovida pela Câmara Municipal de Lisboa, para a qual serão convidadas todas as comunidades étnicas e religiosas da Cidade».
Esta deliberação é um sinal muito positivo que demonstra que Lisboa quer ser Terra de harmonia, uma Cidade cosmopolita. A ela se devem associar todos os que vivem ou trabalham na Cidade e não apenas as “comunidades étnicas ou religiosas”.
Numa Europa e num Mundo marcados por vagas de intolerância, no Ano Europeu para o Diálogo Intercultural, é preciso enraizar marcas que sobrevivam à espuma dos dias.
Aguardo com expectativa os elementos escultórios, que serão contributos das comunidades judaica e católica, que serão obra no primeiro caso da arquitecta Graça Backman e no segundo do escultor Carlos Ramos e do arquitecto Segismundo Pinto.
Se prevenir e combater a intolerância em todas as situações é essencial, devemos aspirar a mais: ao respeito mútuo, à reconciliação, à fraternidade entre todos os seres humanos.
Considero, por isso, que o diálogo inter-religioso - que em Lisboa tem contribuído para a reconciliação e a fraternidade - se deve desenvolver em novas dimensões, na consciência de que não se esgota, nem se reduz ao diálogo intercultural, igualmente imprescindível.
No que se refere concretamente ao diálogo entre católicos e judeus, saúdo o labor persistente e discreto do Padre Peter Stilwell, responsável do DREDI (Departamento das Relações Ecuménicas e do Diálogo Inter-Religioso) do Patriarcado de Lisboa, e de Esther Mucznik, Vice-Presidente da Comunidade Israelita de Lisboa. Ambos têm dado um contributo persistente para que Lisboa possa ser uma Terra de harmonia.

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