terça-feira, abril 22, 2008

INAUGURADO MEMORIAL ÀS VÍTIMAS DA INTOLERÂNCIA

A inauguração esta manhã do Memorial às Vítimas da Intolerância, constituiu um marco histórico na vida da cidade de Lisboa. O Memorial é composto de três peças da iniciativa da Comunidade Israelita de Lisboa, do Patriarcado de Lisboa e da Câmara Municipal de Lisboa, na sequência de uma deliberação municipal a que me referi aqui.
As peças que se encontram no Largo de S. Domingos (ao Rossio) em Lisboa, evocam: o massacre dos judeus, ocorrido em Lisboa há cerca de 500 anos; o gesto de «purificação da memória» e da reconciliação celebrado naquele local por D. José Policarpo no ano 2000; o compromisso de Lisboa com os valores da tolerância por iniciativa da Câmara Municipal.
Representou, como tive oportunidade de dizer hoje com deputado municipal na Assembleia Municipal de Lisboa, o exercício de um dever de memória, prestando homenagem às vítimas da matança da Páscoa de 1506, durante a qual entre dois a quatro mil lisboetas foram assassinados pelo simples facto de serem de origem judaica. Representou também uma homenagem a todas as outras vítimas da intolerância.
Nenhum monumento lhes pode restituir a vida que lhes foi roubada, lhes pode dar o que fariam ou teriam no dia seguinte, mas apesar disso faz todo o sentido recordar com respeito todas as vítimas da intolerância para exprimirmos um compromisso colectivo com a construção de uma cidade tolerante, amiga dos direitos de todos os seres humanos.
A Assembleia Municipal reafirmou o seu respeito por todas as vítimas da intolerância e o seu compromisso com uma Lisboa tolerante, aprovando, por unanimidade, uma moção que, conjuntamente com o Líder da Bancada do Partido Socialista, Miguel Coelho, apresentei.
A Assembleia Municipal é composta por deputados municipais do PS, PSD, PCP, Bloco de Esquerda, CDS/PP, e Verdes.
Seque-se o texto integral da Moção, na esperança que possa inspirar a iniciativa e a imaginação social dos que se batem por cidades tolerantes

Memorial às Vítimas da Intolerância
Considerando que:
1. A tolerância implica um empenhamento activo na compreensão da riqueza da diversidade humana e do respeito do outro no que ele tem de livre e de diferente.
Nas nossas actuais sociedades plurais e cosmopolitas, a tolerância constitui um dos princípios fundamentais da democracia e do respeito da dignidade de cada ser humano.
A intolerância, ao longo dos séculos deixou marcas que envenenou a existência de milhões e milhões de pessoas trazendo-lhe perseguições, humilhações e sofrimentos intoleráveis.
2. Em Lisboa, durante a matança da Páscoa iniciada em 19 de Abril de 1506, e continuado nos dias 20 e 21 foram assassinadas entre duas ou quatro mil pessoas apenas por serem judias. Este crime monstruoso alastrou na cidade a partir do Convento de S. Domingos, na baixa de Lisboa e foi o mais sangrento.
3. No ano de 2000 junto ao Largo de S. Domingos, no quadro de um importante encontro inter-religioso, o Patriarca de Lisboa propôs por gestos e palavras a reconciliação, evocando «a triste sorte dos “cristãos-novos”, as pressões para se converterem, os motins, as suspeitas, as delações e os processos temíveis da Inquisição», tendo afirmado que «A Igreja Católica reconhece profundamente manchada a sua memória por esses gestos e palavras, tantas vezes praticados em seu nome», tendo abraçado os rabinos aí presentes.
4. Nos 500 anos da Matança da Páscoa a Comunidade Israelita de Lisboa propôs à Câmara a colocação de um pequeno memorial no Largo de S. Domingos. A Igreja Católica prontificou-se a acompanhar essa proposta com o memorial do gesto e das palavras de reconciliação, que tinham tido lugar no ano 2000.
5. A Câmara Municipal de Lisboa aprovou a instalação na cidade de um Memorial às Vítimas da Intolerância, que evocasse o massacre dos judeus em Lisboa em 1506 e todas as vítimas que sofreram a discriminação e o aviltamento pessoas pelas suas origens, convicções ou ideias, que foi inaugurado hoje, com o contributo de elementos escultórios das comunidades católica e judaica.
A Assembleia Municipal de Lisboa decide associar-se a esta iniciativa e delibera:
a) Congratular-se pela iniciativa da Câmara Municipal de promover a instalação de um Memorial às Vítimas da Intolerância e saudar todos os que contribuem através de iniciativas que promovem o respeito, o diálogo intercultural ou inter-religioso e a cooperação mútua, para afirmar Lisboa como Cidade da Tolerância;
b) Recomendar à Câmara Municipal que tenha em conta nas suas iniciativas a preocupação de dar rosto e voz à diversidade de culturas que faz de Lisboa uma cidade cosmopolita, e de contribuir para uma educação cívica para a tolerância, que promova o respeito pela dignidade, a identidade e os direitos de todos os seres humanos;
c) Manifestar a disponibilidade para participar, no quadro das suas competências e possibilidades, nas iniciativas que se realizem na cidade que visem promover o respeito pela dignidade de todos os que nela residem ou trabalham.

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