domingo, setembro 28, 2008

PEQUENOS PASSOS PARA A INTERNACIONALIZAÇÃO DA LÍNGUA PORTUGUESA

Saudámos recentemente aqui as medidas anunciadas pelo Governo para promover a internacionalização da Língua Portuguesa.
A recente Cimeira da CPLP a que nos referimos aqui representou um grande passo em frente nesse sentido. Nos últimos meses têm sido dados pequenos passos para a internacionalização da Língua Portuguesa. Nesta semana foram dados pequenos, mas significativos passos para afirmar o empenho de Portugal na internacionalização da Língua Portuguesa por acção do Presidente da República. Saudamos a intervenção de Cavaco Silva na Assembleia-Geral das Nações Unidas, que pode ler na íntegra aqui.
É muito importante que a presidência portuguesa da CPLP tenha criado condições para que as intervenções de abertura e o debate geral da 63.ª Assembleia-Geral das Nações Unidas possam ser feitas em português tendo assegurado a tradução simultânea para as seis línguas oficiais das Nações Unidas, que são actualmente o árabe, chinês, espanhol, francês, inglês e russo. Esta iniciativa enquadra-se no conjunto de acções acordadas na VII Conferência de Chefes de Estado do Governo da CPLP, com vista à promoção do português como «língua global».
Cavaco Silva recordou que a recente Cimeira de Lisboa, na qual Portugal assumiu a Presidência da CPLP, «Permitiu ainda a definição de uma estratégia comum de afirmação internacional desse bem que partilhamos: a Língua Portuguesa – o 5º idioma mais falado no mundo, ligando Estados e povos nos cinco continentes. Uma afirmação que deverá conduzir a que o Português se constitua, cada vez mais, como língua oficial ou de trabalho de organizações internacionais».
Mas a internacionalização da Língua portuguesa tem sido estimulada por outros factos culturais e políticos, que não podemos ignorar.
A Academia de Ciências de Lisboa, cuja relevância pode perceber aqui, sob a direcção de Adriano Moreira tomou recentemente uma decisão histórica ao convidar para «Académicos Correspondentes Estrangeiros» os escritores Germano Almeida (Cabo Verde), Pepetela (Angola), o pintor Malangatana (Moçambique) e o economista Carlos Lopes (Guiné-Bissau).
O resultado das recentes eleições em Angola são naturalmente susceptíveis de múltiplas leituras, mas representam, como escreveu o escritor angolano José Eduardo Agualusa, numa notável crónica intitulada “O exemplo do rei do Congo”, Pública, de 21.09.08, «a vitória definitiva da língua portuguesa e do projecto cultural que nela se exprime». Este facto é uma enorme responsabilidade para os defensores da internacionalização da Língua Portuguesa. José Eduardo Agualusa adverte: «…os pais de milhões de crianças angolanas que hoje só comunicam em português serviam-se de um quimbundo, de um umbundo, ou de um quicongo mais rico do que aquele português que seus filhos hoje falam…», e acrescenta: «Esta erosão de pensamento, pois perder palavras é perder pensamento, da mesma forma que perder línguas é perder mundos, só poderá ser corrigida com um fortíssimo investimento no ensino do idioma português». Termina, fazendo votos «que os dirigentes angolanos….comecem a procurar desde já professores de língua portuguesa, e formadores de professores, onde quer que eles existam, seja em Portugal ou no Brasil, por outro lado que os dirigentes portugueses não sigam o exemplo de D. João III, e saibam corresponder a tais expectativas».
A pobreza do português falado não ocorre apenas em Angola, mas também em muitas áreas de Portugal e do Brasil. O português é uma língua muito rica, mas temos que reconhecer que a maioria dos seus falantes utilizam apenas um número muito escasso das suas palavras e que os dicionários portugueses, mesmo o da Academia das Ciências, são muito pobres e não têm em conta a riqueza do português escrito e falado nos diferentes países de Língua Oficial Portuguesa e que há também um enorme trabalho conjunto a promover para actualizar o vocabulário científico-técnico.
Uma das formas de enriquecer o português escrito e falado pelos cidadãos dos países lusófonos é ligar o ensino do português ao das literaturas dos escritores de Língua Portuguesa, cujos livros se revestem de enorme potencial para aumentar a capacidade cognitiva e a riqueza do vocabulário dos falantes de Línguas Portuguesa.
Como vemos estão-se a dar passos positivos, mas há muito por fazer que exige a colaboração de todos aqueles para quem a pátria é primeiro que tudo a Língua Portuguesa.

Imagem retirada do excelente blogue da Embaixada de Portugal no Brasil que pode consultar aqui.

domingo, setembro 21, 2008

DEPOIS DA CRISE, UM MUNDO PÓS-AMERICANO ?

A actual crise anuncia um longo período de incerteza e profundas mudanças. Estamos numa época em que as regras que têm vigorado no funcionamento dos mercados nacionais e internacionais estão a ser postas sistematicamente em causa, mas em que não existem ainda novas regras que marquem a emergência de um novo período na economia internacional.
Devemos ser prudentes na antecipação do futuro, até porque o futuro não está pré-escrito nos astros, mas depende muito das decisões colectivas e individuais, particularmente das dos agentes políticos mais poderosos e dos responsáveis pelo sistema financeiro internacional. Esta crise não significa o fim do capitalismo. Registamos a este propósito os excelentes posts colocados por João Rodrigues no blogue Ladrões de Bicicletas aqui e aqui que são essenciais para perceber como ideias e opções políticas erradas nos conduziram à actual crise. Se não estamos perante o fim do capitalismo parece óbvio que nada ficará como antes depois desta crise. O neo-liberalismo, a desregulação permanente, a total desconfiança na intervenção do Estado, o dogma da privatização de toda a economia e dos serviços públicos, tudo isto está a ser posto radicalmente em causa. O capitalismo que sair desta crise terá alterado muitas das suas regras de funcionamento, será uma variedade de capitalismo «mais igualitária e decente» como se defende aqui, mas não se traduzirá automaticamente na hegemonia política e cultural da esquerda.
Quando assistimos à crise do subprime nos Estados Unidos, à intervenção pública no Bear Stearns, à falência do Lehman Brothers, às intervenções públicas na Fannie Mae e na Freddie Mac, à compra pelo Bank of America da Merrill Lynch ou à concessão à seguradora AIG de 85 mil milhões de dólares pela Reserva Federal norte-americana (FED), à possibilidade do banco de investimento americano Morgan Stanley vender metade do seu capital ao fundo de investimento público chinês como pode ver aqui, devemos perguntar-nos por quem os sinos dobram ou sobre quem pagará a conta. Os sinos dobram em primeiro lugar pelos cidadãos e consumidores americanos, serão eles a pagar a conta, mas há boas hipóteses de as ondas de choque destas crises virem a repercutir-se no nosso quotidiano, em maior ou menor grau.
O Expresso, de 20 de Setembro de 2008, anuncia desde já O que Portugal vai fazer para resistir à crise referindo medidas que terão impacto sobre o quotidiano dos cidadãos, designadamente, que o crédito às famílias vai ser mais restritivo, mas também a possibilidade de, se a economia europeia entrar em recessão, as taxas de juro já não subirem mais. É necessário que os cidadãos estejam muito atentos às decisões políticas e económicas.
Não deixa, de ser irónico que, neste momento, dos Estados Unidos a Portugal, da direita à esquerda, se dê tanto destaque às questões culturais fracturantes, quando as fracturas mais graves são sociais e económicas. A esquerda não deverá distrair-se da prioridade à crise social e ignorar os alertas nesse sentido como podem ver aqui.
No meio das incertezas parece evidente que estamos a entrar numa era pós-americana, nos termos em que o coloca Fareed Zakaria no seu livro The Post-American World (2008), antes da actual crise, a qual terá, contudo, também reflexos negativos no crescimento dos países emergentes.
A emergência económica e política, entre outros países, da China (de que Jogos Olímpicos foram a sagração a nível mundial), da Índia, da Rússia e do Brasil, modificou as regras de decisão política a nível internacional. Serão cada vez mais parceiros mundiais dos Estados Unidos e da União Europeia, o que coloca desafios novos, entre os quais, a circunstância de alguns não serem democracias.
A crise não gera mecanicamente as soluções, as quais não podem ser um mero regresso a fórmulas do passado, mesmo que Keynes e Marx continuem a poder ser inspiradores. Temos de formular respostas novas, tendo a humildade de perceber que o caminho faz-se caminhando e que não trata de aplicar um pré-definido projecto socialista, mas de construir políticas públicas que concretizem verdadeiras reformas estruturais, inspiradas nos valores do socialismo democrático.

sábado, setembro 20, 2008

AGENDA CULTURAL (7)


FOTOGRAFIAS de
ANTÓNIO SAMPAIO DE CARVALHO


"MESA RESERVADA”



Inauguração - Domingo,28 de Setembro de 2008
das 17h30 às 19h30
Espaço do Restaurante Sabor e Arte
Até 1 de Novembro

Páteo da Bagatela
Rua Artilharia Um n.º51 - loja R- Lisboa




Reservar. Chegar. Sentar. Consultar. Escolher. Aguardar. Conversar ou simplesmente observar. Observar à nossa volta. Este foi o ponto de partida, a motivação para o meu trabalho. O vai e vem das listas, dos talheres, dos copos, dos vinhos, dos pratos confeccionados…

António Sampaio de Carvalho
sc38@clix.pt

domingo, setembro 14, 2008

BOAS NOTÍCIAS PARA LISBOA

Lisboa atravessa um período decisivo para o seu futuro. Depois de anos de má gestão, delapidação de recursos da responsabilidade de Santana Lopes e Carmona Rodrigues que comprometeram a sua dinâmica de progresso, a eleição de António Costa como presidente da Câmara representou a oportunidade a voltar a colocar Lisboa no mapa das mais importantes cidades europeias, como cidade global.
Entre os problemas com que António Costa se viu confrontado, avultam dois que dificultam qualquer dinâmica de mudança: um défice financeiro do município que impossibilita investimentos necessários e urgentes; uma simples maioria relativa, com dispersão da representação à esquerda, que dificulta a mobilização de todas as forças que podem contribuir para a transformação da cidade. António Costa enfrentou com determinação estas dificuldades, tendo no prazo de um ano reduzido a dívida de curto prazo de 360 milhões para 180 milhões de euros e, simultaneamente, procurado assegurar a colaboração de todos os que podem e devem contribuir para a transformação da cidade.
O acordo celebrado com Sá Fernandes e o Bloco de Esquerda tem sido muito positivo para a cidade. Sá Fernandes tem dado um excelente contributo para assegurar a integração do Plano Verde para Lisboa no futuro Plano Director Municipal.
Neste contexto o recente acordo de cooperação entre António Costa e as vereadoras Helena Roseta e Manuela Júdice do movimento CPL (Cidadãos por Lisboa), são boas notícias para Lisboa. António Costa e Helena Roseta estão de parabéns por terem colocado à frente de tudo o interesse da cidade, assegurando a realização de um programa local de habitação, que se destina, designadamente, a promover o repovoamento da cidade (Helena Roseta), e realização e um evento em 2009, que afirme «Lisboa, Encruzilha de Culturas» (Manuela Júdice).
Relativamente a este acordo vi formuladas reservas que me parecem sem sentido. Este acordo, ao contrário, do que se poderia depreender daqui por ser um acordo pós-eleitoral, não é um acordo pela negativa dirigido contra os que na Câmara representam as forças que conduziram Lisboa a uma situação de crise, é um acordo em torno de programas fundamentais para o futuro da cidade.
No Expresso de 14.09.2008, refere-se, por outro lado, que «António Costa falhou grande aliança à esquerda/PCP reafirmou indisponibilidade». É verdade que António Costa estava disponível para assegurar a colaboração do PCP, mas que o PCP continua indisponível. Esta não é uma boa notícia, mas o tempo mostrará com clareza, que o povo de esquerda, quando confrontado com a tentativa da direita de unir esforços para recuperar a Câmara, penalizará severamente o PCP, por sacrificar à sua estratégia nacional de confronto com o governo, a necessidade e a possibilidade de dar o seu contributo para dar força à mudança em Lisboa.
É significativo o facto deste acordo estar a ser recebido com esperança pelas mais diversas áreas da esquerda, como por exemplo se pode ver no que afirmaram Manuel Alegre aqui e Daniel Oliveira aqui.
As mudanças políticas em Lisboa têm coincidido com uma crescente afirmação da criatividade cultural na cidade. Num interessante artigo publicado no jornal “The New York Times” por Seth Sherwood, e republicado na edição portuguesa do “Courrier International” de Setembro de 2008, cuja leitura se recomenda vivamente, refere-se o ressurgimento de Lisboa, afirmando-se, em síntese que: «A capital portuguesa é cada vez mais, um pólo cultural de dimensão europeia. Artistas de todo o mundo expõem em Lisboa, enquanto vai crescendo a voz internacional dos criadores portugueses».
António Costa inscreveu nos seus objectivos contribuir de forma decisiva para que Lisboa seja cada vez mais uma cidade criativa.
A convergência que se verifica entre boas políticas públicas municipais e a aposta nas oportunidades que Lisboa oferece por parte de empreendedores e criadores anuncia o princípio de um ciclo de renovação e afirmação internacional de Lisboa, para o qual todos os que defendem a justiça, a solidariedade, a liberdade, a criatividade, os valores da esquerda, não se podem dispensar de contribuir.

domingo, setembro 07, 2008

AS ELEIÇÕES EM ANGOLA


As eleições para a Assembleia Nacional de Angola, nas quais 8,3 milhões de eleitores elegem 220 deputados, representam um grande passo de aproximação à democracia, que merece ser seguido com atenção e serenidade.
Representam o início de um processo imparável de democratização, porque o povo angolano demonstrou que quer construir o seu futuro com a sua participação activa.
Os angolanos levantaram-se em massa de madrugada na passada sexta-feira, cinco de Setembro, para irem votar, e esperaram a sua vez, por vezes longo tempo, nas mesas eleitorais que tardaram a abrir nalgumas zonas de Luanda.
Tendo-se verificado que 320 assembleias de voto não abriram a cinco de Setembro, devido a constrangimentos resultantes da operação logística de entrega dos materiais de apoio ao processo eleitoral, a Comissão Nacional de Eleições de Angola, conforme podem ver aqui decidiu que as eleições prosseguiriam no sábado, seis de Setembro. Foram igualmente abrangidas pela medida de continuidade da votação, as mesas que por dificuldades logísticas interromperam os seus trabalhos. O objectivo foi permitir a todos os cidadãos recenseados exercer o seu direito de voto
Foi uma decisão correcta, que pretendeu corrigir dificuldades logísticas lamentáveis, mas que não põem em causa o processo eleitoral, que decorreu com liberdade e lisura, como referiu Vital Moreira aqui.
A Comissão Nacional de Eleições de Angola veio no fim do dia seis acrescentar que «das mais de trezentas Assembleias inicialmente identificadas, apenas 48 revelaram-se problemáticas, o que levou a CNE a reagrupá-las para facilitar o processo de votação em Luanda que encerrou as 19h00 de hoje (6 de Setembro)».
A participação esmagadora dos eleitores e a sua vontade de escolher o futuro do seu país, são um factor que nenhum dirigente político angolano pode ignorar para o futuro. Depois de décadas de sofrimento, de luta pela independência, de guerra civil, de lutas fratricidas e sangrentas, inclusive no interior dos seus principais partidos, o povo angolano demonstra querer construir a democracia e demonstra uma imensa esperança no futuro.
Angola é hoje um Estado num processo de modernização, crescimento económico e democratização, apesar das grandes desigualdades sociais existentes, o que, aliás, se verifica também noutros países emergentes.
Só mais e melhor democracia, em Angola, como em qualquer país do Mundo, permitirão um desenvolvimento mais equitativo e uma drástica diminuição da corrupção.
O escritor angolano José Eduardo Agualusa, considerou, num interessante comentário, publicado no “Público”, e escrito antes do acto eleitoral: «Quaisquer que sejam os resultados das eleições…as mesmas assinalam em primeiro lugar o firme trunfo da paz. A campanha eleitoral decorreu sem sobressaltos. Ao contrário do que aconteceu em 1992 nenhum dirigente partidário subiu ao palanque de arma na mão. A imparcialidade das forças policiais foi elogiada pela generalidade dos observadores. O aspecto mais negativo terá sido a utilização pelo partido actualmente no poder das estruturas do Estado, sobretudo dos meios de informação para veicular a sua mensagem.…».
Só podemos fazer votos para que José Eduardo Agualusa tenha razão e que estas eleições representem não apenas o triunfo da paz, mas também a vitória do povo angolano, independentemente dos resultados eleitorais.
Ao ver o povo aglomerar-se nas ruas de Luanda para votar, lembrei-me da minha ida a Angola, no quadro de uma vista do então Primeiro-Ministro, António Guterres, das gentes de Luanda, Benguela, Lubango, do cheiro da terra em Luanda ao sair do avião, da chuva quente, e, sobretudo, da fraternidade com que fomos recebidos.
Não posso por isso deixar de acompanhar com emoção o desenrolar destas eleições, de felicitar o povo angolano pela sua determinação em construir a democracia e uma vida melhor para todos. Faço votos que se ultrapassem todas as dificuldades, com bom senso, para que os angolanos construam um grande país desenvolvido, justo e livre.
Imagem retirada do sítio do IPAD - Instituto Português de Apoio ao Desenvovimento daqui.