sábado, dezembro 12, 2009

LISBOA E A CONFERÊNCIA DE COPENHAGA PARA AS ALTERAÇÕES CLIMÁTICAS

A COP15 - Conferência das Nações Unidas para as Alterações Climáticas a decorrer em Copenhaga reveste-se de grande importância para o nosso futuro colectivo.
As cidades são grandes consumidoras de energia. Lisboa representa 7% do consumo nacional de energia, sendo que cada lisboeta consome 3,1 tep (tonelada equivalente de petróleo), quando a média nacional é de 2,5 per capita.
Em matéria de ambiente é fundamental pensar globalmente, mas agir localmente, através da concretização da Estratégia Energético-Ambiental, produzida pela Agência Municipal de Energia e Ambiente, Lisboa E-Nova, que pode conhecer aqui.
Estão já em concretização em Lisboa, medidas que são um contributo positivo para dar localmente um apoio aos objectivos prosseguidos pela Conferência de Copenhaga. Refiro, concretamente, a valorização da eficiência energética para efeitos de redução de IMI; a instalação de sensores de luminosidade na iluminação pública; o aumento das faixas BUS, bem como a implementação da bicicleta na Cidade; o início em 2009 de lavagem de ruas com águas provenientes das ETARs de Lisboa, estando em curso, a colocação da 1.ª rede de canalização para água reciclada a partir das obras da ETAR de Alcântara; a aprovação pela Câmara e pela Assembleia Municipal das medidas preventivas do Plano Verde que permite dotar a Cidade de um mecanismo de amenização climática, essencial para assegurar o funcionamento do sistema hídrico e a sua drenagem para a atmosfera.
Existem em Lisboa competências científicas e técnicas e crescente sensibilidade dos cidadãos, que nos permitem sermos parte na solução
Informar os cidadãos dos objectivos e das medidas já tomadas ou em vias de serem concretizadas é fundamental para continuar a fazer avançar a consciência cívica nesta matéria.
Todos somos chamados a contribuir para reduzir o consumo descontrolado de combustíveis fósseis e melhorar, simultaneamente, a qualidade de vida dos cidadãos.
Devemos considerar como boas práticas as iniciativas públicas e particulares que têm sido tomadas em diferentes áreas desde a redução do desperdício de papel ou que promovem a eficiência energética dos edifícios, incluindo com a microprodução de energia solar; ou o aumento da Rede do Metropolitano, que se traduz numa maior competitividade do transporte público.
Lisboa, como grande capital europeia, tem de estar vitalmente implicada neste debate e adoptou uma estratégia energético-ambiental, que é um contributo para os objectivos prosseguidos pela Cimeira da Copenhaga.
O futuro da Conferência de Copenhaga não depende apenas dos acordos os dos Estados, depende das políticas das cidades, como Lisboa, e da determinação dos seus cidadãos em que sejam prosseguidas com coerência as estratégias energético-ambientais já definidas.
Imagem cedida gentimente por José Rosa do blogue KJ - KAYE AND JOSE - AMAZING PHOTOS

D. MANUEL CLEMENTE - PRÉMIO PESSOA 2009

A atribuição do Prémio Pessoa 2009 a D. Manuel Clemente é uma boa notícia.
Sobre a personalidade de D. Manuel Clemente, António Marujo deixou no Público aqui as referências fundamentais.
Como referiu Mário Soares, justificando o seu voto favorável a esta atribuição, D. Manuel Clemente é “ uma figura de grande abertura de espírito e um homem de diálogo”, tendo acrescentado “ independentemente de ser bispo e de ser uma grande figura da Igreja portuguesa, é um grande português”.
D. Manuel Clemente foi director do Centro de Estudos de História Religiosa da Universidade Católica Portuguesa, tendo desenvolvido uma actuação muito positiva, como foi assinalado por Bruno Reis, no blogue Regra do Jogo aqui; é actualmente Presidente da Comissão Episcopal da Cultura, Bens Culturais e Comunicações Sociais eleito em 5 de Abril de 2005 pela Pastoral da Cultura cuja actuação pode ser avaliada pela consulta deste excelente sítio aqui.
Licenciado em História pela Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa e em Teologia pela Universidade Católica Portuguesa, tendo publicado livros importantes, designadamente “Portugal e os Portugueses”, a que me referi aqui, o livro “Um Só Propósito”, apresentado por António Barreto como podem ver aqui.
D. Manuel Clemente é membro da Comissão Consultiva da Comissão Nacional para as Comemorações da República, como podem ver aqui.
A unanimidade que reuniu deve ter a ver com o facto de ser um historiador que não instrumentaliza a História. Sem negar os conflitos do passado, não os utiliza para criar novos e artificiais conflitos, tem tido uma preocupação de mediar os do presente, de rigor e de estabelecer pontes.
O novo Prémio Pessoa 2009, para além dos méritos que lhe mereceram a sua atribuição, é um homem bom, culto, justo e socialmente empenhado.

quarta-feira, dezembro 09, 2009

AGENDA CULTURAL (30)

COLÓQUIO CRC

CARITAS in VERITATE- UMA RESPOSTA À CRISE
com
Carlos Santos
Pe. José Manuel Pereira de Almeida
Rui Almeida
Dia 15 de Dezembro, terça-feira, pelas 18h30m
Local: Centro Nacional de Cultura, Galeria Fernando Pessoa, Largo do Picadeiro, n.10, 1.º,Lisboa (Metro-Baixa-Chiado)
Entrada Livre

domingo, dezembro 06, 2009

MUÇULMANOS, CIDADÃOS E EUROPEUS

A proibição da construção de novos minaretes na Suiça provocou muitas condenações a que já me referi aqui e aqui, mas sobretudo colocou no centro do debate a presença dos muçulmanos nos diferentes Estados europeus.
Os muçulmanos não são apenas uma nova presença transitória nas sociedades europeias após um hiato de alguns séculos, nem a sua presença resulta apenas da descolonização e da imigração. Como escrevi no Anuário JANUS aqui em 2007, os muçulmanos estão há vários séculos presentes em várias regiões e Estados europeus. A herança cultural europeia não tem apenas uma matriz judaica, cristã ou iluminista. O contributo de muçulmanos para a cultura de diferentes países tem sido rasurada pelas histórias oficiais, mas nem por isso se pode apagar a importância desse contributo como sabem os autarcas mais atentos de muitas cidades portuguesas, como Lisboa, e tem vindo a ser valorizado por um conjunto de historiadores.
O excelente trabalho publicado hoje por Alexandra Lucas Coelho, no Público, mostra que a “Discriminação contra os muçulmanos está a aumentar em toda a Europa”, como podem ler aqui, tendo por base um estudo do Open Society Institute sobre Muçulmanos na Europa - Um relatório em 11 Cidades da União Europeia.
A islamofobia, como todas as outras formas de racismo e discriminação, tem de ser combatida com determinação por todos os democratas por respeito pelos princípios informadores do Estado de direito democrático, não é um exclusivo dos muçulmanos, nem sequer dos crentes de outras confissões religiosas. Abdool Karim Vakil tem toda a razão quando escreve aqui que "não é uma tarefa que cumpre apenas aos muçulmanos, e sim a todos os cidadãos comprometidos em criar e conviver numa sociedade e num mundo mais justo.”
Verificou-se a condenação dos resultados do referendo por parte não apenas de organizações muçulmanas, mas também católicas, evangélicas, judaicas e por democratas sem qualquer identificação religiosa. Daniel Oliveira no Arrastão aqui, é uma excelente ilustração do contributo de inúmeras personalidades não religiosas para este combate em contraste com a falta de atenção e sensibilidade de outros bloggers e comentaristas.
As discriminações que atingem os muçulmanos são a repetição de discriminações de que outros foram já vítimas no passado. Peter Stilwell, responsável pelo Departamento para o Diálogo Inter-Religioso do Patriarcado de Lisboa, referiu, ao Público de 1/12/2009, a “semelhança com o facto de, antes de 1910, templos não católicos não poderem estar voltados para a rua – a Sinagoga de Lisboa é exemplo. E as igrejas protestantes não podiam ter sinos”.
A construção de uma democracia inclusiva na sociedade portuguesa e nas sociedades europeias não é uma conquista irreversível, é uma tarefa de cidadania de todos os dias, resolvendo os novos desafios que se colocam. O estudo da Open Society Institute, que não conheço ainda, referido por Alexandra Lucas Coelho, formula recomendações que vão na linha da inclusão dos muçulmanos como cidadãos.
Considero boas propostas as recomendações referidas por Alexandra Lucas Coelho aqui dirigidas a combater a discriminação a nível local, nacional e europeu e que se podem sintetizar desta forma: assegurar o acesso à habitação em todos os bairros com uma boa mistura “étnica e religiosa”; facilitar a naturalização e a dupla nacionalidade; encorajar princípos anti-discrimatórios a nível europeu na educação, habitação, transportes, bens e serviços, e conseguir apoio popular para essas medidas; dispor de informação estatística a nível europeu para combater a discriminação e criar um fórum de cidades para a troca de informações e experiências.
Permito-me acrescentar breves conclusões pessoais. É necessário aprendermos a viver, com naturalidade, uns com os outros no trabalho, no lazer, na vida política ou cultural, convivermos, estabelecermos laços sem discriminações.
Perceberemos rapidamente que os muçulmanos, como os não-muçulmanos não são uma categoria abstracta, mas uma realidade plural, são o Ahmed, o José, o Karim, a Latifa, a Maria, a Faranaz. Em breve perceberemos, contra os preconceitos, que o Joaquim é muçulmano, o Hussein é católico e a Maria é indiferente em matéria religiosa.
É este o desafio e o privilégio de vivermos em cidades cosmopolitas como Lisboa.
Imagem da Mesquita Central de Lisboa retirada do sítio da Comunidade Islâmica de Lisboa aqui .

terça-feira, dezembro 01, 2009

REGISTO (ACTUALIZADO)

SUIÇA INTERDITA A CONSTRUÇÃO DE NOVOS MINARETES
A vitória da proibição da construção de novos minaretes no recente referendo suiço não tem provocado muitos protestos entre nós.
Saúdo a posição de Daniel Oliveira no blogue Arrastão aqui , de Sofia Loureiro dos Santos no Defender o Quadrado e na Regra de Jogo aqui e Marco Oliveira no Povo de Bahá aqui.
É com satisfação que constato que, quer os Bispos Católicos da Suiça, quer o Osservatore Romano consideram como desde logo afirmei que "Il «no» svizzero a nuovi minareti danneggia la libertà religiosa " de onde retirei a imagem que ilustra esta posta, como podem ler aqui.

domingo, novembro 29, 2009

REGISTO

SUIÇA INTERDITA A CONSTRUÇÃO DE MINARETES
A Suíça aprovou a interdição da construção de minaretes. Ao aprovar em referendo uma proposta de dois partidos de direita põe em causa a liberdade religiosa dos muçulmanos no país. A proposta foi aprovada por 53 por cento dos helvéticos e apenas rejeitada em quatro dos 26 cantões do país.
O resultado deste referendo obriga-nos também a reflectir sobre os equívocos e limites da democracia directa. Nem tudo pode estar sujeito à democracia directa, nem tudo pode ser sujeito a referendo, designadamente o respeito pelos direitos fundamentais, como a liberdade religiosa. É a liberdade religiosa que está em causa não são questões de gosto ou de arquitectura.
Os Verdes helvéticos ao que li aqui vão reagir contra o resultado deste referendo, que consideram traduzir-se numa violação da liberdade religiosa que é garantida pela Convenção Europeia dos Direitos do Homem. Parece-me bem, sem prejuízo de outras formas de luta.
Solidarizo-me também com a posta de Porfírio Silva no blogue Machina Speculatrix aqui.
Quando estão em causa direitos fundamentais, não podemos hesitar em tomar partido.

ERNESTO MELO ANTUNES - UM HOMEM IMPRESCINDÍVEL

A recente homenagem a Ernesto Melo Antunes no 10.º aniversário da sua morte com o colóquio Liberdade e Coerência Cívica – O exemplo de Melo Antunes na História Contemporânea Portuguesa, que podem conhecer melhor aqui e cujo programa podem conhecer aqui, foi plenamente justificada e esperemos que marque o início do reconhecimento do que foi a sua enorme importância na consolidação da democracia e na construção do Portugal moderno e protagonista activo na cena política internacional. O tempo tende a simplificar os factos passados e reduzir artificialmente os protagonistas dos acontecimentos marcantes, ou a reduzir a sua acção através de clichés, que muitas vezes perduram não por que sejam verdadeiros, mas porque parecem “bene trovato”.
Numa das intervenções da sessão de abertura foi colocada a hipótese de Melo Antunes ter sido “talvez demasiado político para uma carreira militar e demasiado militar para uma carreira política”. É um cliché que não faz justiça ao facto de Melo Antunes ter sido um homem imprescindível. Bertold Brecht considerou num dos seus poemas que “aqueles que lutam toda a vida são imprescindíveis”. Melo Antunes lutou toda a vida, tendo tido, por exemplo, a ousadia de sendo militar no activo ter pretendido integrar uma lista da CDE pelos Açores em 1969, cujo manifesto redigiu e podem ler aqui, o que o salazarismo não permitiu; de ter redigido o capítulo sobre as Forças Armadas do programa do PS na clandestinidade em 1973; de ter sido o coordenador da equipa responsável pela elaboração do Programa do Movimento das Forças Armadas; e o principal autor do Documento dos Nove. Não é, contudo, apenas por ter lutado toda a vida que foi imprescindível. Melo Antunes perdeu algumas batalhas, não logrando, por exemplo, ver concretizado o Programa de Política Económica e Social, elaborado por um grupo de trabalho que coordenou em 1975, que podem ler aqui, e que veio a ser inviabilizado pelo 11 de Março.
Não é pelo facto de não ter sido, por exemplo, Chefe de Estado-Maior ou Deputado, ou dirigente destacado do Partido Socialista, que Melo Antunes deixou de ser um homem imprescindível. Melo Antunes foi Ministro nos segundo, terceiro, quarto e sexto Governos Provisórios, membro do Conselho da Revolução e da Comissão Constitucional (1976-1983), a que presidiu e que foi a antecessora do Tribunal Constitucional.
Recordo apenas três áreas em que sem a acção de Melo Antunes, os acontecimentos não teriam seguido o mesmo caminho: a relação com os novos países africanos de Língua Portuguesa que emergiram após a descolonização; a derrota de Vasco Gonçalves; a consolidação democrática depois do 25 de Novembro. Só o estudo histórico rigoroso permitirá confirmá-lo, mas foi assim que como jovem socialista, empenhado intensamente na luta política nesse período, senti a sua acção.
Melo Antunes bateu-se por uma ideia de Portugal independente e actor activo na cena política internacional em termos que não foram propriamente aqueles que se seguiram, mas a sua preocupação no processo de descolonização com a construção de relações estreitas entre Portugal e os novos países africanos de Língua Portuguesa foi muito positiva e semeou futuros que vieram a facilitar o processo de constituição da CPLP e a juntar na política externa portuguesa a opção europeia com a relação estreita com o Mundo de Língua Portuguesa.
Melo Antunes foi o principal autor do Documento dos Nove, que podem ler aqui, que permitiu isolar Vasco Gonçalves e a sua “muralha de aço”. Foi um documento que galvanizou entusiasmos e deu razões acrescidas para lutar aos que se batiam por um modelo de socialismo inseparável das liberdades, direitos e garantias fundamentais, e recusavam o modelo soviético ou o hiper-radicalismo esquerdista. É verdade que militares à sua direita vieram a ter um papel de relevo na luta contra o gonçalvismo, e que o Partido Socialista teve um papel fundamental e insubstituível nesse processo, mas sem os militares que se mobilizaram em torno do documento, o sucesso desse combate teria ficado irremediavelmente comprometido.
Considero também que Melo Antunes teve um papel insubstituível no impedir que a derrota do radicalismo revolucionário no 25 de Novembro, tivesse sido seguida de uma radical viragem à direita e a uma involução democrática. A ida de Melo Antunes à televisão considerando o PCP indispensável à democracia portuguesa foi um facto extremamente importante e separou as águas relativamente à direita militar e política. Jaime Neves e outros membros da direita militar pretendiam a ilegalização do PCP.
A distância da direita política relativamente a Melo Antunes mantém-se actualmente como o comprova o facto de Cavaco Silva ter recusado o convite para presidir ao colóquio que homenageou Melo Antunes, como podem ver aqui. Recorde-se que o Governo de Cavaco Silva também recusou em 1992 o apoio à candidatura de Melo Antunes a director-geral da UNESCO.
Um homem bom e justo, justificou sem dúvida a sua existência, mas Melo Antunes não foi apenas bom e justo, foi um homem imprescindível.

domingo, novembro 22, 2009

AGENDA CULTURAL ( 29 )

DANÇA DOS DEMÓNIOS
INTOLERÂNCIA
EM PORTUGAL
coordenada por António Marujo e José Eduardo Franco
editada por Círculo de Leitores e Temas e Debates
Apresentação por Mário Soares e Anselmo Borges, na Fundação Mário Soares (Rua de S.Bento, n.º176-Lisboa)
no dia 24 de Novembro, pelas 18h30
"O inferno são os outros"?Organizado em dez temas, este livro pretende mostrar que há movimentos e atitudes culturais que constroem uma história de que não se fala e permanecem como atavismos que só a consciência democrática e culturalmente fundada poderá vencer.
Os temas aqui reunidos falam de mitos de complô, estruturam-se na suspeita e na diabolização, no medo e na fobia, conduzem ora ao desejo de exclusão, ora à tentativa de absorção e apagamento da cultura do outro, ou ainda ao desenvolvimento de mecanismos sociais e culturais de limitação de direitos e liberdades.
Há uma forma mentis maniqueísta e intolerante, comum a todos estes fenómenos, que vê o Outro como inimigo a abater, como uma negação extrema do Nós. Seja qual for o grupo de que se fala – judeus ou muçulmanos, feministas, jesuítas, liberais ou maçons – ele é sempre tomado como secreto. Por vezes, as vítimas de uma determinada época histórica passam a carrascos no momento seguinte. E vice-versa. Outras vezes, o inimigo muda de rosto ou vários inimigos passam a alvo do mesmo preconceito.
Em todos os casos, esta demonização do outro ignora que a humanidade se construiu e continuará a construir precisamente na base de intersecções sucessivas. Contando com a colaboração de dez investigadores reconhecidos, cada texto perscruta a génese e evolução do fenómeno em causa, apresenta a sua doutrina ou traços ideológicos e estuda a sua recepção cultural, literária ou mental.
Este projecto constitui, assim, um contributo para a análise e compreensão histórica, cultural e ideológica das imagens construídas, em forma de abominação, em torno das diferentes mundividências, modos de estar, pensar e agir que se afirmaram em Portugal.
(Adaptado da introdução de "Dança dos Demónios")

sábado, novembro 21, 2009

REGISTO

A Revista ops! é uma das iniciativas editoriais que mais teve impacto político na última legislatura.
Com apresentação crítica do jornalista e comentador político Ricardo Costa, o lançamento decorrerá no próximo dia 23 de Novembro, na livraria Círculo das Letras, Livraria Círculo das Letras, 18h30 (Rua Augusto Gil 15B, à Av. Roma), às 18h30. Com a presença de Manuel Alegre, Henrique Neto, Nuno David, Henrique Melo e outros membros do corpo editorial, esta será porventura uma das melhores oportunidades para reflectir e debater a agenda política que marcou a anterior legislatura, bem como as grandes decisões que marcarão a próxima.
O livro, que inclui igualmente um CD anexo, inclui os textos, depoimentos, reportagens e entrevistas de: Alberto Amaral, Alfredo Bruto da Costa, Almerindo Janela Afonso, Ana Benavente, Ana Cardoso, Ana Maria Vilhena, Ana Paula Marques, André Freire, António M. Magalhães, Carlos Afonso, Catarina Frade, Eduardo de Oliveira Fernandes, Elísio Estanque, Ernesto Silva, Eugénio Menezes Sequeira, Fernando Seabra Santos, Francisco Alegre Duarte, Guilherme d’Oliveira Martins, Helena Roseta, Henrique de Melo, Hermes Augusto Costa, Hugo Dias, João Correia, João Ferreira do Amaral, Jorge Bateira, Jorge Martins, José Carlos Guinote, José Castro Caldas, José Reis, Leonor Janeiro, Licínio Lima, Luciano Rodrigues de Almeida, Luís Novaes Tito, Manuel Alegre, Manuel Carvalho da Silva, Manuela Neto, Maria Clara Murteira, Maria José Gama, Maria José Morgado, Nuno David, Patrícia Jerónimo, Paulo Guinote, Paulo Peixoto, Pedro Bingre, Pedro Tito de Morais, Ricardo Paes Mamede, Rosário Gama, Sérgio Pessoa, Teresa Carla Oliveira e Teresa Portugal.

domingo, novembro 15, 2009

UNIDOS PELA COMPAIXÃO NA MESQUITA CENTRAL DE LISBOA

Realizou-se hoje um encontro sobre a compaixão na Mesquita Central de Lisboa, no qual tive muito gosto em participar a convite da Comunidade Islâmica, que pode conhecer melhor aqui.
Este encontro inseriu-se na dinâmica criada pela Carta sobre a Compaixão (Charter for Compassion) a nível mundial, estando a realizar-se iniciativas em diversos países, como pode ver aqui.
A compaixão está no centro de todas as tradições religiosas, éticas e espirituais, e convida-nos a tratar todos os outros da mesma maneira como gostaríamos de ser tratados, como se refere na carta, que acrescenta:
A compaixão impele-nos a trabalhar incessantemente com o intuito de aliviarmos o sofrimento do nosso próximo, o que inclui todas as criaturas, de nos descentrarmos do nosso mundo, e no lugar, colocar os outros, de honrarmos a santidade inviolável de todo o ser humano, tratando todas as pessoas sem excepção, com absoluta justiça, equidade e respeito.
A Carta sobre a compaixão teve na sua origem uma ideia de Karen Armstrong que podem ouvir aqui. Esta antiga freira, autora do livro “The Case for God” tem-se batido para que a compaixão esteja no centro da moralidade e da religião. A Carta foi subscrita desde logo por inúmeras personalidades tais como o Dalai Lama, a Rainha Noor da Jordânia, Paul Simon, o Arcebispo Desmond Tutu, o Prof.Cândido Mendes, Peter Gabriel, Tariq Ramadan, Meg Ryan, entre muitas outras.
No Encontro realizado em Lisboa, o Sheikh David Munir e o Presidente da Comunidade Islâmica de Lisboa, Abdool Vakil, deram as boas vindas aos participantes.
Seguiram-se intervenções de diversas confissões de religiosas e de não-crentes. Muçulmanos, cristãos, católicos, mas também evangélicos e de outras confissões, judeus, hindus, bahá’ís, budistas uniram-se para defender a importância da compaixão nesta iniciativa em boa hora promovida pela Comunidade Islâmica de Lisboa, e referiram de que forma assumiam a relevância central da compaixão nas suas diferentes tradições religiosas. Também vários não-crentes, com destaque para Mário Soares, Presidente da Comissão da Liberdade Religiosa referiram a importância da compaixão para os que não se identificam com qualquer tradição religiosa. António Costa, Presidente da Câmara Municipal de Lisboa, esteve também presente.
Foram todos contributos de grande qualidade e profundidade como o do Padre Peter Stilwell, que falou em representação da Igreja Católica, que graças à sua gentileza e amizade, temos o gosto de publicar neste bolgue.
No encerramento Abdool Vakil agradeceu a participação de todos e referiu uma vez mais o seu empenhamento como muçulmano na luta pela afirmação da compaixão como valor central na sociedade, tendo terminado com uma oração que exprimia o sentir dos participantes. Mahomed Abed, 1.º Secretário da Comunidade Islâmica, que teve um papel de relevo na organização do encontro convidou os presentes a visionarem os depoimentos de aderentes da Carta, antes de dar por encerrado o encontro, que dará lugar a novas iniciativas.
As diferentes confissões religiosas representadas na iniciativa, demonstraram, uma vez mais, que são actualmente em Portugal uma força ao serviço da paz, da convivência cívica, do diálogo inter-cultural e inter-religioso, que partilham o princípio da Carta de que “é ilegítima qualquer interpretação das escrituras que gere ódio, violência ou desprezo”. Poderão por isso contribuir, de forma relevante, para concretizar os objectivos da Carta, nomeadamente, “para a criação de uma economia justa e uma comunidade global pacífica”.
A compaixão, nem pretende ser exclusivo de ninguém, crente, ateu ou agnóstico, mesmo se tem um lugar central em diferentes tradições religiosas. Poderemos dizer que inspirou os autores da Declaração Universal dos Direitos do Homem quando escreveram que todos os seres humanos devem agir uns para com os outros em espírito de fraternidade. Se a compaixão nos impele a irmos para lá da fraternidade, não podemos falar de compaixão se não começarmos por nos olharmos uns aos outros em espírito de fraternidade e não agirmos no respeito dos direitos de todos os seres humanos.

INTERVENÇÃO DO PADRE PETER STILWELL EM TORNO DA CARTA PELA COMPAIXÃO

A carta, cujo lançamento hoje nos reúne aqui, elege como referência a “compaixão”, emoção valorizada pelo menos nas principais tradições religiosas. É, como vários já testemunharam, uma palavra que não faz justiça a outras, mais antigas, cujo sentido se apagou ou distorceu com o tempo. Refiro-me à hesed da tradição bíblica, o "amor das entranhas" que os primeiros cristãos de língua grega traduziram por ágape e os de língua latina verteram no neologismo caritas, cuja raiz é a charis, ou graça, pedida de empréstimo aos gregos. Em suma, um amor marcado pela gratuidade, que encontra paralelos e convergências noutras tradições antigas.
Trata-se de uma emoção delicada: um transbordar do coração perante as alegrias e sofrimentos dos outros. É um movimento profundo que arranca das raízes do nosso ser, antecedendo a reflexão da razão e a inclinação da vontade. Mais do que uma atracção "química" pelo outro, ou sequer um sentimento psicológico de afinidade, é uma virtude ou força espiritual. Os cristãos lêem-na como brotando do próprio Deus, e por isso lhe chamam "virtude teologal".
Nesse sentido, antes de ser acção ela é atenção, vigilância. Dir-se-ia que é a condição do outro que abre em nós a fonte da nossa própria humanidade. Por isso, a compaixão se manifesta como resposta espontânea à grandeza ou miséria do outro: um excesso que transborda do coração de qualquer homem ou mulher, independentemente da sua filiação ideológica e religiosa, ou ausência dela, porque a todas antecede.
Contudo, na sua delicadeza, a compaixão arrisca-se a ser perdida de vista por entre a multiplicidade de sentimentos e emoções que parecem mais relevantes para a vida quotidiana. Pode parecer uma emoção débil, sintoma de fraqueza perante a crueldade do real. Identificá-la e sublinhar a sua grandeza aos olhos do mundo, como o pretende fazer a rede que se tece em torno da Carta pela Compaixão, é por isso da maior importância.
O cuidado atento pelo outro, próprio da compaixão, questiona o valor absoluto por vezes atribuído à afirmação da identidade e aos nossos direitos. Nisso se esconde um fermento de humanidade e mesmo uma proposta civilizacional.

sábado, novembro 14, 2009

REGISTO

REVOGADAS AS TAXAS MODERADORAS PARA INTERNAMENTOS E CIRURGIAS


Sofia Loureiro dos Santos referiu-se no blogue A Regra do Jogo aqui à revogação das taxas para internamentos e cirurgias. Como escreveu, “ainda bem”. Associo-me ao seu comentário. Acrescento apenas que foi mais uma decisão inteligente da competente e sensata Ministra da Saúde.
Não posso deixar de recordar que desde o início critiquei estas taxas por porem em causa os direitos dos doentes, tendo, aliás, reduzido alcance financeiro, como se pode ler aqui. O que estava em causa era outra filosofia sobre o financiamento do Serviço Nacional de Saúde.
Ainda bem que Ana Jorge é Ministra da Saúde.

domingo, novembro 08, 2009

OS DESAFIOS DA ACÇÃO E ORGANIZAÇÃO SINDICAL E A CSI NO COMBATE À CRISE

A nova realidade económica, social e política internacional, o aprofundar do processo de globalização, a crise e o peso das políticas neoliberais, têm tornado cada vez mais necessária a unidade de acção das organizações sindicais e a existência de uma forte e activa CSI-Confederação Sindical Internacional, a cuja criação nos referimos aqui.
Torna-se premente um novo internacionalismo sindical vivo e actuante sob pena dos sindicatos se tornarem cada vez mais actores secundários no necessário processo de regulação da globalização e no combate à crise. A UGT (União Geral dos Trabalhadores) aderiu desde o início à CSI, mas faz falta a adesão da CGTP-IN.
A Conferência Sindical Internacional realizada ontem em Lisboa sob o lema “Os desafios da acção e organização sindical e a CSI no combate à crise”, cujo programa pode ver aqui ,foi por isso um acontecimento de grande significado que marcará a evolução sindical em Portugal.
Esta Conferência foi promovida por um conjunto de onze sindicatos filiados na CGTP-IN, ligados a todas as correntes minoritárias, desde a corrente socialista à bloquista, passando por católicos e ex-comunistas, e contou com o apoio da Fundação Friedrich Ebert, como se pode ver aqui.
Estes sindicatos divulgaram no momento da convocação da Conferência um manifesto em que defendem a adesão da CGTP-IN à CSI, como já tinham defendido no Congresso da CGTP-IN, que optou pela não filiação na CSI ou na FSM, considerando que o debate sobre esta questão devia prosseguir.
A relevância da Conferência não pode ser avaliada pelo número dos sindicatos que a organizaram, mas pela pertinência das questões colocadas, que foram referidas no manifesto que divulgaram e ninguém conseguirá retirar da agenda a questão da necessidade de filiação sindical da CGTP-IN na CIS.
Sem pretender ser exaustivo registo algumas das razões, constantes do manifesto divulgado pelos onze sindicatos e aprofundadas em algumas das intervenções. A necessidade de fazer face à crise e aos desafios da globalização e da crise leva a que a CGTP-IN não possa deixar de estar na CSI, onde se encontra a grande maioria das centrais sindicais de classe, nem poderá deixar de ser solidária com a maioria das centrais sindicais a nível mundial.
A CSI tem 311 organizações sindicais filiadas e representa 168 milhões de trabalhadores, enquanto a FSM não divulga o número de sindicatos filiados, nem o número de trabalhadores que representa.
Todas as confederações sindicais da Confederação Europeia dos Sindicatos (CES) estão filiadas na CIS, com excepção da CGTP-IN. Todas as confederações sindicais nos PALOP, bem como a CUT/Brasil estão filiadas na CSI, o que significa que as confederações dos países de origem das principais comunidades de imigrantes em Portugal, estão filiadas na CSI. A ausência da CGTP-IN da CIS dificulta também a defesa a nível internacional dos imigrantes portugueses, designadamente, na área da construção civil.
Só a CSI e não a FSM, têm capacidade de intervenção na OMC (Organização Mundial do Comércio), na OIT, junto do FMI ou do Banco Mundial.
Em matéria de liberdade e democracia sindical, a CSI defende a aplicação das convenções fundamentais da OIT, e, por extensão dos direitos humanos, e a FSM não valoriza nem releva essas importantíssimas conquistas civilizacionais.
A CSI é a única resposta mundial inovadora aos desafios da crise e da globalização, que pode contribuir para alterar a correlação de forças a favor dos trabalhadores, que permitirá conferir maior eficácia à sua luta pela liberdade e pela justiça, através da intervenção autónoma das centrais sindicais.
Florival Lança, antigo Secretário Internacional da CGTP-IN, Ulisses Garrido, ou Carlos Trindade, dirigentes da CGTP-IN, ou Reinhard Naumann, representante da Fundação Friedrich Ebert, sublinharam, entre muitos outros, as razões pelas quais consideram necessária essa adesão.
José Pedro Castanheira referiu no Expresso, de 7/11/2009, que “O PCP forçou a CGTP a rejeitar convite para a Conferência”, mas o debate não deixará de prosseguir.
Sugiro aos interessados neste debate, que consultem a informação disponível, no blogue que pretende discutir de forma aberta a possível filiação da CGTP-IN na CSI-Confederação Sindical Internacional aqui.
Este é um debate a que não podemos ser indiferentes, porque não interessa apenas aos sindicalistas de uma determinada orientação sindical, terá reflexos na coesão social, na qualidade da democracia, nas lutas de todos os cidadãos pela inclusão e pela cidadania, por trabalho decente e com direitos para todos os trabalhadores.

sexta-feira, novembro 06, 2009

AGENDA SOCIAL ( 2 )


Conferência Sindical Internacional

Os Desafios da Acção e Organização Sindical e a CSI no Combate à Crise

Dia 7 de Novembro de 2009
Local: Hotel Zurique, Rua Ivone Silva 18, Entrecampos, Lisboa

Programa disponível aqui

terça-feira, outubro 27, 2009

REGISTO

JOSÉ SARAMAGO E A BÍBLIA
As recentes declarações de José Saramago sobre a Bíblia provocaram grandes discussões, nem sempre serenas e informadas.
Devo dizer que sou um leitor de José Saramago e que tenho simpatia pela forma como tem vindo a construir a sua obra literária.
Quando fui presidente do Centro de Reflexão Cristã (CRC) convidei-o para debates em que participou com total disponibilidade e grande generosidade.
Discordo, contudo, frontalmente da sua leitura literal da Bíblia, como de outras leituras literais de cristãos fundamentalistas.
Verifico que há muito para conhecer e discutir e que muita gente tem ainda uma leitura superficial da Bíblia.
Quero ai deixar o registo de algumas postas publicadas por João Miguel Almeida no Peão aqui e aqui e por Daniel Oliveira no Arrastão aqui e aqui , que são exemplos de intervenções inteligentes neste debate.
A propósito saiu uma edição da Bíblia para todos, que poderá conhecer melhor em breve em http://www.abibliaparatodos.pt/ .
A Bíblia é para mim o livro dos livros, mas todos os outros são imprescindíveis, designadamente, Caim de José Saramago.

domingo, outubro 25, 2009

CADERNO AFEGÃO DE ALEXANDRA LUCAS COELHO

O Afeganistão está mais do que nunca no centro da agenda política internacional, depois de Hamid Karzai ter sido levado a aceitar a eliminação dos votos fraudulentos nas eleições recentemente realizadas e de reconhecer a necessidade de efectuar uma segunda volta nas eleições presidenciais. Este reconhecimento é um facto sem precedentes em processos políticos recentes. Estamos numa encruzilhada política, marcada por uma grande incerteza relativamente ao futuro.
O Afeganistão está perto de nós não apenas por ter sido o ponto de partida de actos terroristas promovidos por Bin Laden, pelo facto de que a solução política que for ensaiada terá repercussões no nosso futuro colectivo, mas também porque os militares portugueses nele têm assegurado uma presença de grande dignidade.
Para saber um pouco mais sobre o Afeganistão é indispensável ler o livro Caderno Afegão, recentemente publicado por Alexandra Lucas Coelho, com prefácio de Carlos Vaz Marques numa belíssima e cuidada edição da Tinta da China, com capa dura, ilustração e fitilho.
É um excelente livro que se lê, de seguida, pelo prazer de ler, mas que nos ajuda a entender a complexidade da situação, os elementos culturais que não podem ser subestimados na construção das políticas, escrito por uma jornalista culta, inteligente e corajosa, que escreve literariamente um livro de viagens como fazia Bruce Chatwin.
A forma subtil como nos chama a atenção para os pormenores, da gastronomia, à forma como as mulheres se cobrem e descobrem, para os cheiros nauseabundos, mas também para as rosas e os jardins, para a beleza das pessoas, para as estratégias de segurança necessárias para circular, para o palimpsesto, a expressão é minha, de culturas sobrepostas e rasuradas de que é feito o Afeganistão, prende-nos e dá-nos pistas para entendermos as notícias que são publicadas nos jornais.
Dá-nos o quotidiano de coragem dos que regressaram e não desistem de reconstruir o país, o trabalho persistente de organizações como a Cruz Vermelha Internacional ou a Fundação Aga Khan.
Muita dessa gente é discreta na forma como pretende reconstruir uma sociedade civil, nomeadamente, a Fundação Aga Khan que vai lançando os alicerces de um futuro melhor, recuperando bairros inteiros nos centros históricos de Cabul e Herat, o que implica «- edifícios, materiais, artes e ofícios -, mas também desenvolvimento - educação, saúde, emprego, esgotos, pavimentos» ou edificando escolas em zonas remotas do Afeganistão, em terras de xiitas.
Ajuda-nos a perceber a riqueza cultural e espiritual que se esconde por trás da violência e da corrupção e que se exprime nesta frase de inspiração sufi de um velho e culto afegão “Cada pessoa tem valor por estar viva” ou a espantosa luta do livreiro de Cabul, que desde a monarquia à actualidade, passando pelo regime comunista e dos talibans persistiu na sua resistência cultural.
Cabul, Herat, Jalabad, Kandahar, Mazar-I-Sharif, Bamiyan, Band-E-Amir, Bamyan tornaram-se mais familiares, depois da leitura deste livro escrito com paixão. Senti agudamente como a nossa vida e experiência é limitada e pensei que, provavelmente, nunca terei oportunidade de visitar o Afeganistão, mas que deixou de ser para mim um país distante. Não esquecerei, por exemplo os Budas que foram destruídos pelos talibans em Bamyan, as ideias sobre a sua (limitada) reconstrução, mas também a beleza da paisagem que vi através da escrita de Alexandra Lucas Coelho. Não esquecerei as águas de Band-e-Amir, «a sombra azulada de uma grande superfície na montanha» e «três lagos mais belos que os lagos mais belos, entre montanhas dramáticas, de um turquesa impossível». Seria interessante que fosse publicada uma edição ilustrada desta viagem. Existem algumas fotografias e estão disponíveis aqui, mas as palavras são, neste caso, ainda mais expressivas do que as imagens.
Vale a pena traduzir este livro noutras línguas, mas quem poder ler Caderno Afegão na sua língua original será um privilegiado, porque está escrito num português magnífico, de uma forma viva, ágil e expressiva, que transmite com precisão factos e emoções.

sábado, outubro 24, 2009

DOIS NOVOS BLOGUES

Faranaz Keshavjee é uma cidadã portuguesa, uma professora universitária e uma teóloga muçulmana ismaelita. Não tem limitado a sua acção ao interior da Comunidade Ismaili, tem tomado parte activa no diálogo inter-religioso e intercultural. Referimos, designadamente, aqui e aqui , a algumas das suas participações. É uma cidadã activa, sem compromissos partidários, que foi membro da Comissão de Honra da Candidatura de António Costa à Câmara Municipal de Lisboa. É uma amiga que irei ler com atenção no novo blogue Crónicas de Uma Muçulmana aqui.
A Regra do Jogo é um blogue de leitura , também, indispensável que podem seguir aqui.
É um blogue colectivo de Ana Paula Fitas, Bruno Reis, Carlos Santos, Eduardo Graça, Guilherme W. Oliveira Martins, Hugo Mendes, Idália Moniz, João Constâncio, Luís Novaes Tito, Paulo Ferreira, Porfírio Silva, Ruben Ribeiro Eiras e Sofia Loureiro dos Santos, para o qual estabeleci um link permanente.
Este blogue é um espaço, onde muitos dos participantes, têm uma identificação ideológica com a esquerda democrática. Como referem: «Os jogos políticos, geopolíticos e partidários estão em marcha. E, como se dizia em La Règle du Jeu, um filme premonitório de tempos instáveis como o das frenéticas emoções da França de 1939, "Ce qui est terrible dans cette terre, c'est que tout le monde à ses raisons"».
Foi com prazer que vi o meu anterior post reproduzido aqui por iniciativa do Luís Novaes Tito, que, entre muitas outras coisas, criou, o primeiro sítio do ACIME.

domingo, outubro 18, 2009

PORTUGAL RECONHECE OS DIREITOS DOS IMIGRANTES

Portugal foi o país melhor classificado no que respeita à atribuição de direitos e serviços aos migrantes internacionais no Relatório sobre o desenvolvimento humano 2009 do PNUD (Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento Humano), que podem consultar aqui, intitulado Ultrapassar Barreiras: Mobilidade e desenvolvimento humano e que foi comentado aqui.
É uma boa notícia que não posso deixar de saudar, desde logo porque foi necessário percorrer um longo percurso para aqui chegar. Uma classificação destas tem de ser merecida, tem para trás muitos anos de trabalho sério de muita gente e muitas lutas que envolveram agentes políticos, associações de imigrantes, organizações católicas, sindicatos e outras organizações solidárias com os imigrantes. É também uma classificação que responsabiliza, que temos o dever de continuar a merecer. Esta classificação desmonta a argumentação daqueles políticos de direita que estão sempre a dizer que não têm nada contra os imigrantes, só são contra a sua presença porque o país, deixa entrar os imigrantes, mas desinteressa-se da sua integração. Ora isto não é verdade há muito tempo. Foi verdade durante muitas décadas, mas deixou de o ser em 1996 com a criação, por António Guterres, do Alto-Comissário para a Imigração e Minorias Étnicas (ACIME), hoje Alto Comissariado para a Imigração e Diálogo Intercultural (ACIDI) e as políticas públicas de integração concretizadas desde essa data. Nessa altura os poderes públicos reconheceram, «de facto, o que até então tinha sido relegado para a categoria de “realidade virtual”», como então escreveram M. Margarida Marques e Rui Santos
Desde a criação do ACIME foram definidas e concretizadas políticas públicas de integração dos imigrantes, assentes no reconhecimento alargado de direitos aos imigrantes, o que, aliás, é uma decorrência do estatuto constitucional dos estrangeiros assente no princípio da equiparação de direitos e deveres entre nacionais e estrangeiros, com as excepções previstas na Constituição e na lei.
Portugal, que segundo o relatório, tem 7% de imigrantes, reconhece, designadamente: o acesso aos cuidados de saúde, independentemente do estatuto legal dos imigrantes (p. 56), como em Espanha; o acesso pelos alunos imigrantes a escolas com professores e recursos educativos de qualidade semelhantes àqueles que os alunos nativos têm acesso (p. 59), como na Dinamarca, Grécia e Holanda; Portugal, como a Itália, Luxemburgo e a Suécia são os países europeus em que existe um menor número de cidadãos considera que os imigrantes são um fardo fiscal líquido (p. 88); Portugal, como o Reino Unido ou a Itália permite aos imigrantes a oportunidade de converterem o seu estatuto temporário em permanente após vários anos de residência regular (p. 98); vários países europeus proporcionam cursos para o ensino da língua para os imigrantes recém-chegados, através de programas oferecidos pelo governo central, escolas públicas, municípios e ONGs, como acontece com o programa Portugal Acolhe, que remonta a 2001 (p 104).
O relatório poderia ter considerado outros índices, referentes ao acesso ao mercado de trabalho, à habitação, nomeadamente, à habitação social, às prestações sociais. Também nestas matérias, Portugal não ficaria mal classificado, mesmo se muito há a fazer.
O estudo em que são referidas as medidas adoptadas em Portugal em matéria de integração faz parte de um conjunto de mais de sessenta que serviram de base à elaboração do Relatório sobre o desenvolvimento humano 2009.
Esta classificação e vai na linha das conclusões do Migrant Policy Group no seu Índice das Políticas de Integração dos Imigrantes (MIPEX) que colocou Portugal em segundo lugar em 2007 entre os 25 países da UE.
Nada disto nos pode fazer esquecer que continuam e existir imigrantes em situação irregular em Portugal, como, aliás, em todos os países da UE, incluindo na Alemanha, que estão privados do direito de permanecerem nos diferentes países. Os Estados-Membros da UE continuam a tornar muito difícil a imigração legal, vendo-se obrigados a regularizar de forma casuística imigrantes que se encontram em situação irregular.
Também não podemos esquecer que há uma grande distância entre o que Dworkin designou como «law in the books» e «law in action», bem como o carácter precário de alguns diplomas legais que reconheceram direitos, como o acesso à saúde. Mas nada disto nos pode levar a subestimar a importância de Portugal ter reconhecido, com largueza, direitos aos imigrantes. Importa agora que se empenhe em concretizá-los.

quarta-feira, outubro 14, 2009

AGENDA CULTURAL ( 28 )

Comissão Nacional Justiça e Paz
Grupo de Trabalho Economia e Sociedade

Conferência
«Da democracia política à democracia económica»
Prof. Doutor Ladislau Dowbor
Dia 20 de Outubro às 15h00
Local: Fundação Calouste Gulbenkian – Auditório 3
(Av. de Berna, 45A - Lisboa)

Programa
 Palavras de abertura: Alfredo Bruto da Costa, Presidente da CNJP
 Apresentação do orador: Prof. Mário Murteira
 Conferencista: Prof. Doutor Ladislau Dowbor
Interpeladores: Doutor José da Silva Lopes, Prof. João Rodrigues
Moderadora: Manuela Silva

Entrada Livre

Nota curricular do conferencista:

Ladislau Dowbor é formado em Economia Política pela Universidade de Lausanne.
Doutor em Ciências Económicas pela Escola Central de Planeamento e Estatística de Varsóvia (1976). Actualmente é professor titular no departamento de pós-graduação da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, nas áreas de Economia e Administração.
Continua com o trabalho de consultadoria para diversas agências das Nações Unidas, governos e municípios. Actua como Conselheiro na Fundação Abrinq, Instituto Polis e outras instituições.
Ultimamente tem trabalhado no desenvolvimento de sistemas descentralizados de gestão, particularmente no quadro de administrações municipais, envolvendo sistemas de informação para a gestão, políticas municipais de emprego, políticas integradas para crianças em risco e gestão ambiental.
Publicou mais de meia centena de livros e artigos. Textos técnicos disponíveis na homepage
http://dowbor.org/

sábado, outubro 10, 2009

AGENDA CULTURAL ( 27 )

Em co-organização com a Atalanta Filmes, o Le Monde diplomatique - edição portuguesa promove um ciclo de três debates (coord. de José Mapril), a seguir à exibição de Welcome, no Cinema King (Lisboa).
O primeiro debate teve lugar na passada sexta-feira, dia 9 de Outubro.
Estiveram em discussão Ilegalidade, fronteiras e imigração na Europa, com a participação de José Mapril (CRIA), Lorenzo Bordorano (CRIA) e Victor Pereira (IHC).
O segundo debate tem como tema Trabalho (in)formal e (in)documentação, com José Nuno Matos (ICS) e Rahul Kumar (ICS), no dia 14 de Outubro, 4.ª feira. A exibição do filme começa às 21h30.
As políticas da (in)documentação, com José Tolentino Mendonça (escritor) e Lídia Fernandes (SOLIM), serão discutidas no terceiro debate no dia 23 de Outubro, 6.ª feira.
Trailer do filme (legendado)

sexta-feira, outubro 09, 2009

MANUEL ALEGRE APOIA ANTÓNIO COSTA E UNIR LISBOA

António Costa e a sua lista representam aquela esquerda que pode vencer, mas neste momento ele representa mais do que o Partido Socialista, representa mais do que essa esquerda, representa mais do que os cidadãos que estão com ele, representa mais do que ele próprio, representa um projecto de abertura, um projecto inovador para unir Lisboa agora, para vencer e para unir Lisboa depois (…)
Só há uma maneira de renovar a Democracia, é vencer essa doença tão antiga do sectarismo, é pelo diálogo, é pela abertura, é pela inovação, é sabendo ouvir o outro, é sabendo falar ao outro
”, disse Manuel Alegre, muito aplaudido pela pequena multidão que enchia a Rua Augusta. “É essa a característica e originalidade inovadora desta lista encabeçada por António Costa”, sublinhou…
Para Manuel Alegre, as eleições autárquicas na capital são uma escolha entre “um projecto, que tem uma equipa competente” e a “estratégia nenhuma” de “uma espécie de malabarista solitário”, numa referência ao candidato social-democrata, Santana Lopes. “Consistência e leviandade”, “responsabilidade e demagogia”, “um projecto que procura mobilizar as pessoas” e o “populismo” de “ideias avulsas”, são outros opostos que, segundo Alegre, se defrontam no combate eleitoral da capital(….)
O ex-candidato presidencial considerou que a corrida à Câmara de Lisboa “é evidente que é uma escolha entre a esquerda e a direita”, mas também da Lisboa que se quer ter. O apelo que lançamos à cidade de Lisboa, de se unir para termos um governo de confiança, é uma mensagem que está a ser escutada, que está a ser ouvida e está a ter uma resposta clara”, afirmou. “Estamos aqui todos porque queremos continuar a ter uma Câmara de confiança à frente da cidade de Lisboa”, sublinhou.
Ver texto mais completo no sítio de Manuel Alegre aqui.

quarta-feira, outubro 07, 2009

REGISTO


Apoio de Carvalho da Silva a António Costa


Manuel Carvalho da Silva, líder da CGTP e militante do PCP, declarou hoje o seu apoio à candidatura de António Costa à Câmara Municipal de Lisboa.
"É preciso para Lisboa e para os lisboetas que António Costa ganhe as eleições", disse Carvalho da Silva no Chiado.
Blogue Unir Lisboa aqui.

segunda-feira, outubro 05, 2009

AGENDA CULTURAL ( 26 )

O cheiro de Deus
Na poesia de Adília Lopes

- trânsito da crença na poesia de Adília Lopes
Iniciativa do projecto Bíblia, Comunicação & Arte da Universidade Católica Portuguesa, ancorado na Faculdade de Teologia e no Centro de Estudos de Religiões e Culturas
7 de Outubro, pelas 15 horas
Temas abordados:
“A poesia como lugar teológico”
“As armas desarmantes de Adília Lopes”
“Deus é a nossa mulher-a-dias”
Participam: Peter Stilwell, Rosa Maria Martelo, José Tolentino de Mendonça.
Moderam. João Lourenço (FT-CERC), Maria Antónia de Vasconcelos (Didaskália), Alfredo Teixeira (IUCR-CERC)
18h,30 - Recital por Adília Lopes
Lançamento de “Dobra” Poesia Completa

sábado, outubro 03, 2009

ANTÓNIO COSTA - UNIR LISBOA

As eleições autárquicas em Lisboa são uma escolha decisiva entre dois candidatos, duas candidaturas e duas ideias totalmente diferentes para a cidade. É preciso sublinhar que é uma opção decisiva e que só estão em causa duas candidaturas para Presidente da Câmara, a de António Costa e a de Pedro Santana Lopes.
António Costa é o candidato do PS, que se abriu não apenas aos candidatos identificados com o movimento Cidadãos Por Lisboa de Helena Roseta ou de Lisboa é Muita Gente de José Sá Fernandes, mas também de muitos outros independentes, como os do CLAC, Cidadãos Lisboetas Apoiam António Costa. António Costa bateu-se por uma unidade à esquerda mais ampla, mas o Bloco de Esquerda e a CDU recusaram-na. Pedro Santana Lopes é o candidato de toda a Direita, reunida numa coligação do PSD/CDS/PP/PPM/MPT- Partido da Terra. Só estes dois candidatos concorrem verdadeiramente a Presidentes da Câmara de Lisboa. Os restantes candidatos de outros partidos de esquerda não concorrem a Presidentes de Câmara. Concorrem apenas a vereadores, porque o Presidente da Câmara é o candidato que encabeça a lista mais votada e não é escolhido pelos vereadores eleitos. Votar nessas listas é dispersar votos que são necessários para que António Costa possa governar a Câmara de Lisboa. A esquerda não deve concentrar os votos em António Costa, não deve ser burra, como referiu Boaventura de Sousa Santos aqui.
Lisboa depois da falência, da confusão e da paralisia em que a mergulharam a gestão da Direita, não pode ser mais uma cidade de oportunidades perdidas. O jovem escritor Jacinto Lucas Pires na sessão de apresentação da Comissão de Honra da Candidatura Unir Lisboa, que pode consultar aqui, referiu que é necessário recusar a lógica do foguetório, do populismo e da demagogia barata, que caracterizam a candidatura de Pedro Santana Lopes. António Costa representa, pelo contrário, a vontade de fazer de Lisboa uma cidade das pessoas, uma cidade amigável, uma cidade sustentável, uma cidade competitiva, inovadora e internacionalizada, uma cidade próxima e participada, uma cidade de oportunidades, cujo programa pode conhecer aqui.
Neste contexto, justifica-se que a esquerda se una em torno de António Costa, mas não apenas a esquerda, todos os cidadãos que amam Lisboa, que consideram que merece ser governada por uma equipa que faz bem. A Comissão de Honra da Candidatura de António Costa e o Concerto Todos Por Lisboa aqui exprimem bem a unidade de gerações, de actividades profissionais, de gente com diferentes orientações políticas, que estão empenhados numa boa governação para Lisboa, que é uma cidade maravilhosa, com uma luz magnífica, com gente cuja riqueza e diversidade cultural é uma oportunidade para fazer uma grande metrópole cosmopolita,
Depois de ter sido arrumada a casa na Câmara e pagas as dívidas, a cidade mexe, os pavimento foram recuperados, os espaços verdes estão a ser preservados, muitas casas estão a ser reabilitadas, bem como jardins ou logradouros, as pessoas sentem-se respeitadas na sua diversidade e que a sua diversidade cultural é uma oportunidade e não um fardo para a cidade, os mais velhos voltam a jardins que tinham sido abandonados e degradados e recomeçam os seus jogos de cartas, aumentam as vias cicláveis e os corredores bus. Naturalmente que muito há que fazer para tornar Lisboa uma cidade mais amigável, mais limpa, mais segura, para assegurar melhor mobilidade, para dotar Lisboa de melhores escolas, que assegure mais oportunidades para todos incluindo os jovens e os idosos, uma cidade de bairros, em que o comércio, o turismo, a ciência e a cultura, as novas industrias, e o empreendorismo criem empregos decentes.
Só pode unir Lisboa quem foi capaz de unir em torno de si cidadãos de grande competência, vindos da esquerda, de alguma direita que ama a Cidade, ou sem qualquer filiação política, quem promove o respeito pelas diferentes correntes espirituais da cidade e pela tolerância, quem sendo laico participou nas procissões católicas tradicionais da cidade, valorizou as raízes judaicas e islâmicas. Só Antonio Costa e a listas do PS, abertas aos cidadãos independentes, podem fazer de Lisboa uma cidade das pessoas, uma grande metrópole cosmopolita uma cidade global, como já fomos no passado e temos o direito e a possibilidade de ser de novo no futuro.

domingo, setembro 27, 2009

PRÉMIO: "ESTE BLOG É VICIANTE"

Carlos Santos do blogue O Valor das Ideias distinguiu-nos com o prémio “Este Blog É Viciante ”, o que muito nos honra porque O Valor das Ideias é um dos blogues mais viciantes, porque é sempre informado, inteligente e argumentado. Apenas por ter sido ele a distinguir-nos que não o incluímos nesta lista de dez blogues que consideramos viciantes e indicamos por ordem alfabética:

sábado, setembro 26, 2009

AGENDA CULTURAL ( 25 )

ENZO BIANCHI
PARA UMA ÉTICA PARTILHADA
Conferência – dia 30 de Setembro de 2009, pelas 11,30m
Universidade Católica Portuguesa, Auditório Cardeal Medeiros
Rua Palma de Cima, Lisboa.
(Entrada Livre)
Organização Faculdade de Teologia / UCP/
Vigararias I a IV de Lisboa

Enzo Bianchi fundou a Comunidade Monástica de Bose, em 8 de Dezembro de 1965, dia em que terminou o Concílio Vaticano II.É um profundo conhecedor da espiritualidade das tradições cristãs e está empenhado num diálogo permanente e exigente com o mundo contemporâneo. Foi recentemente editado entre nós o livro com o mesmo título, pela editora Pedra Angular, sobre que pode saber mais aqui.

domingo, setembro 20, 2009

PS – UMA FORÇA TRANQUILA PARA GANHAR AS ELEIÇÕES

Entramos na semana decisiva para as eleições legislativas e não posso deixar de chamar, uma vez mais, a atenção para a importância de que se revestem para o futuro de Portugal, dos portugueses e dos imigrantes que aqui residem e trabalham.
A alternativa é entre José Sócrates e o PS e Manuela Ferreira Leite e o PSD, entre a Esquerda democrática e reformadora e a Direita conservadora e neoliberal.
A campanha tem sido esclarecedora, tem modificado a opinião de muitos eleitores, e o PS deve prosseguir no rumo que tem traçado: explicar as políticas que tem procurado concretizar, assumindo que foram cometidos erros na preocupação de assegurar o interesse geral, ou numa linguagem mais familiar a muitos cidadãos na preocupação de assegurar o bem comum e, sobretudo, explicar a estratégia para fazer avançar Portugal de 2009 a 2013.
Devemos continuar a traçar o nosso próprio caminho, como José Sócrates está a fazer, e não andar à roda como baratas tontas em função dos faits-divers. É lamentável que Manuel Ferreira Leite, em vez de fazer a explicitação das suas políticas, viva em função das notícias sobre a compra de votos no PSD, sobre a inventona das escutas do Governo a Belém e episódios semelhantes, misturando tudo isso com a farsa do discurso do medo, mas para ela no próximo fim de semana chegará a hora da verdade.
O que é importante é continuar a mostrar ao País que José Sócrates e os socialistas são uma força plural, mas que nesta batalha decisiva para a derrota da Direita, que aspira a reunir uma maioria parlamentar um Governo e um Presidente, estão todos unidos no essencial neste combate. A presença de António José Seguro, como cabeça de lista por Braga, a participação de Manuel Alegre no comício de Coimbra ao lado de José Sócrates, mostra claramente quanto prezamos o pluralismo e que ele é uma força, não um sinal de fraqueza. Não é a vitória do PS, que é um partido plural, que pode constituir um perigo para todos os que de nós divergem, mas seria uma eventual vitória de Manuela Ferreira Leite, que afastou das listas dirigentes do PSD que dela discordam, que constituiria um perigo para o democracia, tanto mais que assume como um modelo a asfixia democrática existente na Madeira.
Aproveitemos esta semana para continuar a semear o futuro de esperança e confiança nas nossas capacidades colectivas, para falarmos das políticas que pretendemos concretizar para reforçar a economia portuguesa e combater o desemprego, como vamos continuar a trabalhar para assegurar a sustentabilidade e eficácia do Estado Social, mais e melhor educação, saúde e segurança social.
José Sócrates não tem de se preocupar com intrigas a propósito das relações entre o Governo e Belém, deve continuar a pautar a sua actuação por uma impecável cooperação institucional. Há muita gente que apoia o PS e que não é candidata a nada para se ocupar disso com bom senso e inteligência como se vê, por exemplo, aqui ou aqui.
Se prosseguirmos com serenidade o nosso rumo, se não nos deixarmos enredar nos faits-divers, estou certo que continuaremos a engrossar como força tranquila, a subir nas sondagens e mereceremos uma nova vitória nas eleições legislativas.
As escolhas política essenciais colocadas aos portugueses, são, pois, muito claras, como refere o programa eleitoral do Partido Socialista, entre um programa de iniciativas para vencer a crise quanto possível ou cruzar os braços e ficar sempre à espera que a crise passe; entre prosseguir a modernização do País para preparar o futuro, ou ao invés, parar tudo e andar para trás; entre reforçar as políticas sociais, e o Estado social ou fazê-lo recuar para a condição de Estado mínimo.
Como afirmou ontem Manuel Alegre em Coimbra, como podem ver aqui, ao lado de José Sócrates e Ana Jorge: Um regresso deste PSD seria uma regressão na economia, nas políticas públicas, nos direitos sociais e na qualidade da democracia. A lógica do Estado mínimo, a retirada do Estado das políticas públicas sociais traz consigo uma lógica de asfixia social. E com asfixia social, sim, é que há asfixia democrática. Manuel Alegre acrescentou: Portugal precisa de um Governo da esquerda possível, do PS. Portugal não precisa do regresso da direita, precisa de um Governo de esquerda, da esquerda possível e esse Governo é o Governo do PS. Manuel Alegre frisou: Meu caro José Sócrates, Portugal precisa de um Governo que seja capaz de se renovar, de se repensar, de ser ele próprio um factor de mudança e de procurar novas soluções para esta crise estrutural. Sobretudo, é preciso nunca esquecer que o poder não é um fim em si mesmo, mas um meio para servir as pessoas.
Que ninguém se iluda no Centro-esquerda e na Esquerda, só o PS pode impedir a vitória da Direita. O eventual crescimento do BE ou do PCP à custa do PS teria um sabor muito amargo e consequências dramáticas se tivesse como consequência a vitória da Direita e de Manuela Ferreira Leite.
A realização do essencial dos projectos da Esquerda passa nestas eleições pela vitória do PS e de José Sócrates. O PS se prosseguir, com serenidade e determinação, a campanha que tem feito, como estou certo que fará, merece a confiança dos cidadãos e a vitória nas eleições legislativas.

sábado, setembro 19, 2009

REGISTO

NOVO BLOGUE

À porta das eleições, os ânimos aquecem, a incerteza aumenta, os cães ladram e a caravana passa.Este é o espírito do novo blog, "Cães como tu", http://caocomotu.net/, que inclui várias autores ligados à Revista ops! e à Corrente de Opinião Socialista de Manuel Alegre, entre outros autores independentes: Nuno David, Elísio Estanque, Pedro Tito de Morais, Jorge Martins, Luis Novaes Tito, Manuela Neto, Paulo Peixote, Luis Moita, entre outros.Sacode as pulgas da consciência, rebenta as trelas do conformismo, morde os donos que te querem açaimar. Liberta-te. Descobre o cão que há em ti!

Acompanha o blog, http://caocomotu.net/

quarta-feira, setembro 16, 2009

VIAJAR PELO MUNDO SEM SAIR DA MOURARIA


TODOS - Caminhada de Culturas não foi um evento efémero. Foi um passo decisivo na generalização da descoberta de que é possível viajar pelo Mundo sem sair de Lisboa e que devemos começar pela Mouraria (Lisboa).
José Rosa é responsável, conjuntamente com a australiana Kaye Menner, do blogue de fotografias KJ - KAYE AND JOSE - AMAZING PHOTOS, no qual se referiu a esta iniciativa como podem ver aqui, de quem já publicámos uma excelente fotografia aqui.
José Rosa enviou-nos agora estas duas outras excelentes fotografias inéditas, que temos muito gosto em editar.
Estas fotografias prolongam as de Georges Dussaud, que pode ver até 8 de Outubro na Rua da Mouraria, perto do Martim Moniz. Devem também ver a Exposição Colectiva de Fotografia de Georges Dussaud, Luís Pavão, Luísa Ferreira, Camila Watson e Carlos Morganho, que se encontra no Arquivo Fotográfico, Rua da Palma 246, até 8 de Outubro, as fotografias de Luís Pavão até 10 de Outubro no Centro Comercial da Mouraria, os 20 anos de Fotografia de Luís Pavão nos Amigos do Minho, Rua do Benformoso, 244, 1, até ao Natal.
É um renovado convite a palmilhar e descobrir Lisboa, tornada possível pela iniciativa da Câmara Municipal de Lisboa, presidida por António Costa, para quem as pessoas, neste caso, da Mouraria são o coração de Lisboa.

domingo, setembro 13, 2009

TODOS - CAMINHADA DE CULTURAS

VIAJAR PELO MUNDO SEM SAIR DE LISBOA
Lisboa é uma cidade construída através de uma profunda mestiçagem cultural e biológica ao longo de séculos, onde conviveram e se misturaram diversos povos e culturas, que sempre que se assumiu como cidade cosmopolita foi uma grande metrópole internacional e que sempre que se tornou intolerante, entrou em decadência.
António Costa na inauguração de Todos – Caminhada de Culturas aqui, referiu que antes de Richard Florida e das suas ideias sobre cidades criativas já Antero de Quental nos tinha alertado para o facto de que não há progresso e desenvolvimento sem tolerância.
Lisboa com António Costa tem vivido sob o signo da tolerância como já referimos aqui, no respeito pela diversidade cultural e espiritual, pelo que cada cidadão tem de livre e de diferente.
O evento Todos - Caminhada de Culturas, que já referimos aqui, foi uma extraordinária iniciativa cultural e social, de uma cidade amigável, que valoriza a participação, a criatividade e a diversidade dos cidadãos.
Este evento integrou-se na programação de LEM (Lisboa, Encruzilhada de Mundos) da responsabilidade da vereadora Manuela Júdice, em parceira com a Academia de Produtores Culturais, e contou com a concepção de Miguel Abreu, Madalena Victorino, Giacomo Scalisi e Inês Barahona.
Neste evento que teve sempre no centro as pessoas da Mouraria, “o Bairro mais multicultural de Lisboa” com escreveu Alexandra Prado Coelho no Público aqui, cruzaram-se fotografia, música, cinema, dança, gastronomia, envolvendo alfacinhas com novos lisboetas provenientes de outras regiões do país, da África, da Ásia, do Leste da Europa.
É preciso que se saiba em todo o país e no estrangeiro que é possível viajar pelo mundo sem sair de Lisboa e que a Mouraria é um dos bairros de Lisboa por onde se deve começar.
Envolver os cidadãos, respeitando a sua dignidade, valorizando a sua diversidade, e fomentando a sua participação é a chave para a reabilitação e o desenvolvimento urbano e não há desenvolvimento sem mobilização da dimensão cultural e da participação dos cidadãos.
Esta preocupação de envolver os cidadãos está muito presente na forma como foi utilizada a fotografia, desde os auto-retratos de Carlos Morganho, realizados com a participação directa dos fotografados, até às fotografias dos residentes da autoria de Camilla Watson, Carlos Morganho, Georges Dussaud, Luis Pavão, Luísa Ferreira, Helena Gonçalves, quer as que foram expostas no Arquivo Fotográfico aqui, quer nas frontarias dos prédios do Martim Moniz e no Beco das Farinhas, sem esquecer as exposições fotográficas no Centro Comercial da Mouraria e no Grupo Excursionista Recreativo dos Amigos do Minho.
A vida e a arte devem estar entrelaçadas. A arte deve contribuir para dar mais cor, sabor e nitidez à vida e é muito inspirador que este evento se intitule caminhada de culturas, o que aponta para um ir mais além, para a abertura e não para o fechamento. O comércio, muito presente na Mouraria, foi sempre um meio através do qual as religiões e culturas se transmitiram e se cruzaram.
Tive oportunidade de seguir um grupo indiano, o Jaipur Maharaja Brass Band, no sábado de manhã desde o Largo do Intendente até ao Martim Moniz passando pela Rua do Benformoso e devo dizer-vos que vale a pena habituarmo-nos a palmilhar Lisboa, a conhecê-la na sua diversidade. Não há nenhuma razão para que não continuemos a palmilhar Lisboa, da Igreja de S. Domingos, no Rossio, aos Anjos.
A Mouraria era conhecida a nível nacional pela procissão de Nossa Senhora da Saúde, acontecimento espiritual e cultural de grande significado. Passou agora a contar anualmente com um evento cultural que tem como vocação mobilizar toda a diversidade cultural existente e que contribuirá para a projecção de Lisboa como grande metrópole cosmopolita a nível nacional e internacional.
Imagem retirada do sítio da Câmara Municipal de Lisboa aqui, na qual se vê a forma como as fotografias realizadas por Georges Dussaud foram expostas no Martim Moniz.

domingo, setembro 06, 2009

TED KENNEDY - ELOGIO DE UM HOMEM IMPERFEITO

Há agentes políticos, culturais ou sociais, religiosos, agnósticos ou ateus, que procuram transmitir, ou que são apresentados com uma imagem de exemplaridade, que os erguem como figuras que as multidões endeusam e adoram. Não deixo de me interrogar se essas manifestações não são uma “religiosidade de substituição” e se o facto de eu ser católico me torna ateu perante esses cultos.
O cidadão comum é trabalhado pelos médias para amar, endeusar ou para odiar. É mais difícil aceitar que algumas destacadas figuras públicas, homens ou mulheres, tiveram aspectos positivos e negativos na sua vida pessoal e actuação pública, que apesar de serem homens ou mulheres imperfeitos fizeram grandes obras, que ajudaram muitas pessoas a viver com dignidade e que por isso merecem o nosso respeito e gratidão, o nosso afecto, mas não a nossa adoração.
Devo dizer que andava a hesitar escrever sobre a morte de Edward Moore Kennedy, conhecido por Ted Kennedy, que podem conhecer melhor aqui, mas foi o inteligente artigo de Anselmo Borges no DN aqui, que me decidiu a fazê-lo, bem como, o facto da sua morte não ter merecido a referência que merecia nos blogues, com honrosas excepções, nomeadamente, aqui ou aqui.
Ted Kennedy disse, numa carta que tinha enviado recentemente ao Papa Bento XVI, que sabe que foi um homem imperfeito, o que ninguém contestará. Não é por isso que merece ser recordado, mas pelo facto de ter sabido sempre recomeçar de novo e ter sido sempre fiel a uma atitude e a uma prática política que teve objectivos muito determinados. Na carta referida por Anselmo Borges, Ted Kennedy afirma: “Dei o meu melhor para embandeirar os direitos dos pobres e abrir portas de oportunidades económicas. Trabalhei para receber os imigrantes, combater a discriminação e ampliar o acesso aos cuidados médicos e à educação.” Poderia ter acrescentado que lutou sempre pelos direitos civis, pelos direitos dos imigrantes, pelo controlo das armas de fogo, pelo salário mínimo, para assegurar a cobertura de saúde dos milhões de americanos sem seguro de saúde, contra a discriminação em razão do sexo, ou da orientação sexual, pela despenalização da interrupção voluntária da gravidez.
Barack Obama, cuja eleição apoiou de forma decisiva, afirmou na missa de corpo presente que teve lugar na basílica de Nossa Senhora do Perpétuo Socorro de Boston (Massachusetts): “O mundo lembrar-se-á de Ted Kennedy como defensor dos pobres, a alma do Partido Democrático,” e um grande legislador. Foi também um amigo dos portugueses e dos luso-americanos, que sempre o apoiaram, tendo sido um dos grandes defensores norte-americanos da causa de Timor-Leste e sendo responsável do Azorean Refugee Act, que permitiu a mais de 1500 açorianos afectados pelo vulcão dos Capelinhos (Faial) a emigração para os Estados Unidos.
As suas memórias intituladas True Compass, para cuja redacção contou com o apoio de Ron Powers, autor de uma biografia de Mark Twain, serão publicadas no dia 14 deste mês, permitirão conhecer melhor acontecimentos marcantes da história americana contemporânea, o assassinatos dos seus irmãos John e Robert Kennedy, as causa por que se bateu, as suas contradições e os episódios dramáticos que teve de superar, as leis para cuja aprovação contribuiu de forma decisiva e que redesenharam a América contemporânea, bem como, a sua luta corajosa contra o cancro que o vitimou.
Espero que possamos contar em breve com uma boa tradução deste livro em português e que possamos perceber melhor como é que Ted Kennedy, que assumiu ter sido um homem imperfeito, contribuiu de forma decisiva através de uma intervenção política continuada para que os Estados Unidos se tornassem uma país mais democrático, mais justo, com maior igualdade de oportunidades para todos, sem o que Barack Obama não poderia ter sido eleito presidente da República.
O sucesso de algumas das suas causas, designadamente em matéria de acesso universal à saúde não está ainda garantido e defronta grandes resistências e isso preocupava-o. Devemos recordar que considerou que com Barack Obama “o sonho continua vivo”.
Por tudo isto não podemos deixar de estar gratos pelo legado político que deixou e perceber melhor com o seu exemplo como a luta política pode ser um compromisso exigente com a construção de sociedades mais justas, que respeitem a dignidade e os direitos de todos e assegurem maior igualdade de oportunidades de realização pessoal.

domingo, agosto 30, 2009

NÃO PODEMOS ADIAR A ESPERANÇA NUM FUTURO MELHOR

Antes de começar a campanha eleitoral é bom que reflictamos sobre o que está em jogo nas próximas eleições legislativas e a questão é muito clara, ou o PS ganha as eleições legislativas ou ganha o PSD. Aliás, hoje, a opção é ainda mais nítida, a direita, pretende reunir as condições para assegurar uma hegemonia duradoura, assegurando uma maioria na Assembleia da República, um governo, e contando já com um Presidente alinhado com a sua agenda política conservadora.
As consequências de uma ou outra vitória serão enormes para o futuro do Portugal e terão uma tradução directa nas condições de vida dos portugueses e de todos os cidadãos residentes em Portugal.
José Sócrates lançou as bases para uma mudança profunda de Portugal, que permite preparar-se para o novo quadro económico e político internacional emergente no século XXI e enfrentar hoje com possibilidades de sucesso a actual crise económica.
Esta governação não foi isenta de erros, nem seria de esperar que o fosse. Numa altura, em que era mais difícil criticar, subscrevi uma moção crítica com Helena Roseta e disse-o de viva voz perante o Congresso do Partido Socialista, como podem recordar aqui. Continuo a considerar pertinentes as críticas então formuladas.
Não podemos, contudo ignorar, que o activo do Governo do PS, ultrapassa de longe as críticas legítimas que se possam formular a esta ou aquela área da governação.
José Sócrates soube aprender com alguns dos erros cometidos. O último Congresso do Partido Socialista representou um passo decisivo na preparação de novas propostas políticas, que encontraram tradução no programa eleitoral do Partido Socialista, que podem ler aqui, no qual considero que a generalidade dos socialistas, incluindo, os que consideram ter tido motivos legítimos de crítica, se podem reconhecer no essencial.
Não há dúvida que faz sentido votar PS para fazer Avançar Portugal, mas também para que se aplique uma agenda social, que faz parte do programa e que estou certo José Sócrates irá aplicar com a mesma determinação com que aplicou a agenda de modernização tecnológica com evidente sucesso.
A esquerda socialista, sem abdicar do seu espírito crítico e inclusive das suas divergências, só tem uma opção, tudo fazer para que o PS vença o PSD.
Francisco Louçã e o PCP enganam os eleitores de esquerda quando fazem crer que votar PS ou PSD é a mesma coisa, e que, de qualquer forma, a vitória do PS nas eleições legislativas está assegurada.
Os jovens à procura do primeiro emprego, os trabalhadores a braços com empresas em crise, os desempregados, os funcionários públicos, os sobreendividados, os reformados, os idosos empobrecidos, as pessoas que vivem em união de facto, todos os cidadãos vítimas de discriminações, não podem ficar à espera da “esquerda exemplar” que resultará um dia da recomposição da esquerda. Parafraseando Keynes, a longo prazo, pelo menos muitos de nós estaremos mortos.
Francisco Louçã só tem ilusões e muitas confusões para oferecer, como resulta com clareza da sua entrevista ao “Expresso” (29 de Agosto de 2009). O objectivo do BE é aumentar os resultados eleitorais, não é assegurar que Portugal seja governado à esquerda. A recusa do BE em participar de uma alternativa de esquerda com o Partido Socialista na Câmara de Lisboa, mostra que quando está em causa uma batalha decisiva para a esquerda, o BE só tem um objectivo procurar ter mais uns votos, demonstrando que toda a conversa sobre o diálogo à esquerda só tem para o BE como objectivo criar condições para o seu crescimento eleitoral. Se o BE nem sequer está disponível para contribuir para uma esquerda plural a nível local, é justo concluir, que assim será também a nível nacional.
Ora tudo isso é grave porque raramente esteve tão em causa como nestas eleições, a opção entre a esquerda e a direita. Mentem ao povo de esquerda todos os que procuram insinuar que os programas do PS e do PSD são idênticos.
Como alerta Boaventura Sousa Santos aqui, o cidadão comum de esquerda não pode ignorar que “o dano que a direita fará ao já minguado Estado - Providência será desta vez irreversível” (Um cidadão comum de esquerda, Radar Ensaio, Visão n.º860).
O cidadão comum de esquerda não pode por isso abster-se, ou votar apenas por protesto, não deve equivocar-se, terá de votar no PS e em José Sócrates, porque é única forma racional de lutar pela concretização da sua esperança. Não podemos adiar a esperança num futuro melhor.

quinta-feira, agosto 27, 2009

AGENDA CULTURAL (24)

PROGRAMAÇÃO
TODOS – CAMINHADA DE CULTURAS

Texto de Abertura

TODOS…
Não é um festival, é um convite para caminhar,
Passear por um dos bairros mais antigos de Lisboa,
Palmilhar S. Domingos, Martim Moniz, Intendente, Mouraria e Anjos, para passar a conhecê-los como a palma da mão.
Um fim-de-semana para:
cortar o cabelo num cabeleireiro chinês, ou africano,
dançar como em Bollywood, ou na Moldávia,
vestir um sari,
descansar na rua da Palma,
comer carne Halal, muamba, makoufe,
ouvir cânticos ucranianos da antiguidade,
deitar-se a céu aberto e, com roupa usada, desenhar continentes,
calibrar os pneus do carro a preços convidativos…
TODOS propõe ao longo de quatro dias um contacto com as culturas que habitam esta zona da cidade através das músicas, das religiões, das comidas, do comércio e das pessoas. Passeios a pé levam o público a conhecer uma pessoa na sua própria casa, a descobrir uma escadaria de azulejos à luz da vela, uma mesquita onde só os homens poderão entrar, ou lições de culinária com ida prévia às compras.
A substituir a publicidade urbana de grande formato, o fotógrafo francês Georges Dussaud instala nas paredes vazias dos edifícios imagens novas de uma população fulgurante oriunda de vários pontos do mundo, que vive nas sombras do bulício da cidade.
Concertos multiculturais no largo do Intendente e Martim Moniz, uma fanfarra oriental pelas ruas da Palma, Benformoso e ruelas da Mouraria, filmes documentais que falam de realidades "invisíveis" que existem no coração das cidades, pequenas peças de teatro, dança e música instaladas em lojas e associações culturais que se dão a conhecer em salas referenciais do bairro.
TODOS é um momento de uma festa internacional com enfoque nos países das pessoas que vivem nesta zona da cidade. TODOS é um espaço de reconhecimento e celebração
de uma Lisboa outra e nova que devemos incluir definitivamente na nossa identidade urbana.
Um programa que se desenha num jogo informal de diálogos culturais, encontros entre moradores e artistas, vivificação de espaços, trocas entre culturas, encontros entre tradições portuguesas e estrangeiras. Um programa que se faz de eventos maiores de rua e de acontecimentos mais pequenos que ligam o público à comunidade e aos artistas convidados. Lojas, restaurantes, cabeleireiros, lugares de culto e associações tornam-se também protagonistas nesta caminhada que se deseja festiva. Caminhada para o cruzamento dos povos que habitam a cidade e que são também afinal lisboetas.
Para conhecer a programação ver aqui .