terça-feira, janeiro 20, 2009

AGENDA CULTURAL (14)



Inauguração hoje,às 21 horas, da exposição

"Panos d'Obra - Homenagem a Amílcar Cabral"
de Manuela Jardim

na Fundação Mário Soares,
Rua de S. Bento, nº 160, 1200 Lisboa

com participação musical de Guto Pires
e músicos da Guiné-Bissau e Cabo Verde

domingo, janeiro 18, 2009

O DIÁLOGO CATÓLICO-MUÇULMANO É INCONTORNÁVEL

As declarações de D. José Policarpo sobre o casamento entre católicas e muçulmanos e as reacções que suscitaram, vieram demonstrar a necessidade de prosseguir e aprofundar o diálogo e o relacionamento entre católicos e muçulmanos em Portugal, que tem sido exemplar, como foi sublinhado, de imediato, pelo Padre Peter Stilwell, responsável pelas relações ecuménicas e pelo diálogo inter - religioso no Patriarcado de Lisboa.
Tendo promovido as primeiras iniciativas que envolveram católicos, muçulmanos e judeus no quadro do CRC (Centro de Reflexão Cristã), considero que o diálogo entre católicos e muçulmanos não deve escamotear as questões controversas, mas tem de ser desenvolvido no quadro de uma ética de responsabilidade e não alimentar um circo mediático, que muitos aproveitam para dar livre curso aos seus preconceitos.
Não ignoro o muito que tem sido feito para o diálogo e convivência fraterna por D. José Policarpo, e já tive oportunidade de me referir aqui à importância desse diálogo.
O mais contestável na declaração coloquial de D. José Policarpo, é não ter em conta que nas situações que referiu há dimensões culturais, que não se confundem com a fé dos crentes muçulmanos, que têm a ver com correntes culturais, políticas e religiosas islâmicas dominantes em determinadas sociedades não-democráticas.
A teóloga muçulmana ismaelita, Faranaz Keshavjee, num inteligente depoimento publicado no Público, de 15 de Janeiro de 2009, chama a atenção, com pertinência, para a existência de diferentes práticas, tradições e leituras de fé diferenciadas entre os 1,2 mil milhões de muçulmanos do mundo.
A pluralidade do islamismo, não é uma realidade apenas internacional, mas é algo que também existe entre nós, um país em que os muçulmanos, como também acontece com os judeus, não são apenas uma presença recente, mas têm raízes antigas na sociedade e cultura portuguesas. Muitas das figuras mais em evidência nas diferenças correntes e comunidades islâmicas em Portugal, são cidadãos portugueses de origem, não são imigrantes, o que lhes confere características específicas em termos europeus.
Faranaz Keshavjee faz uma afirmação que me parece essencial: «Conhecer os muçulmanos não passa só por ler o Alcorão, mas por conviver com eles e escutá-los». Tem toda a razão. Só se pode conhecer e só se pode gostar das pessoas com quem nos habituamos a conviver no dia a dia, com quem partilhamos com naturalidade as dificuldades e as esperanças.
A advertência sobre a necessidade de não ficarmos pela leitura do Alcorão, vale também para os muçulmanos que quisessem conhecer os católicos através da mera leitura da Bíblia. O «Deus dos Exércitos», de que se fala, por vezes, no Antigo Testamento, poderia não permitir perceber os ensinamentos de Jesus Cristo e dar uma ideia deformada do catolicismo, ou do cristianismo, em geral.
Nesta matéria é sempre útil, não nos focarmos pelos textos fundadores, mas perceber a forma como são lidos e têm sido apropriados no decorrer do tempo pelos crentes das diferentes confissões religiosas na sua vida quotidiana.
Recentemente realizou-se um importante encontro entre católicos e muçulmanos no Vaticano, como se pode ver aqui, que irá prosseguir num país de maioria muçulmana, como se pode ver aqui.
Católicos e muçulmanos, muçulmanos e católicos, estão condenados a dialogar entre si, a desenvolver uma cultura de respeito mútuo, e, em geral, de respeito pela liberdade religiosa.
O diálogo entre católicos e muçulmanos é um contributo incontornável para o respeito dos direitos humanos através do diálogo entre as grandes tradições religiosas da humanidade.
O diálogo deve ser também entendido como uma exigência de respeito pelo Deus Vivo que, independentemente das suas diferentes tradições, católicos e muçulmanos proclamam. Como poderemos anunciar Deus aos não - crentes, se não formos capazes de promover o diálogo, o respeito e a cooperação entre os crentes?

terça-feira, janeiro 13, 2009

AGENDA CULTURAL (13)


Sessão de apresentação do livro

MIGRAÇÕES E PARTICIPAÇÃO SOCIAL
M. Margarida Marques
Rui Santos e José Leitão (colab.)
no dia 27 de Janeiro, pelas 18h30m,
A apresentação do livro será feita pelo
Dr.Guilherme d'Oliveira Martins

na Galeria Fernando Pessoa, do Centro Nacional de Cultura,
Largo do Picadeiro, n.º 10, 1º
metro: ( Baixa-Chiado)

domingo, janeiro 11, 2009

O PARTIDO SOCIALISTA E A PROCURA DE UMA FORMA JUSTA PARA A CIDADE

Tenho defendido que cabe ao Partido Socialista a enorme responsabilidade de continuar a merecer, e em muitos casos recuperar, a confiança dos eleitores, quer pela sua acção governativa quer pelas políticas que defina para o novo ciclo político.
Considero essencial que seja capaz de o fazer, porque sem o Partido Socialista, a esquerda não marcará o próximo ciclo político.
Para quem tivesse alguma dúvida, a estratégia do Bloco de Esquerda para as eleições autárquicas e, particularmente, para Lisboa, não permite continuar a tê-la. Quando António Costa se empenha em criar condições para que seja possível governar Lisboa à esquerda depois das próximas eleições autárquicas, o Bloco de Esquerda apenas se preocupa com estreitas contabilidades eleitorais, mesmo tendo de romper com José Sá Fernandes e fazendo correr o risco de entregar a gestão da cidade à direita mais populista e incompetente que já governou Lisboa.
A necessária renovação da esquerda democrática e socialista não passa apenas pelo Partido Socialista, mas a expressão política do socialismo democrático é e continuará a ser o Partido Socialista, mesmo para quem tem divergências e criticou políticas que têm sido concretizadas.
O Partido Socialista deve ter, contudo, a lucidez de perceber que é necessário abrir o debate à esquerda e que podemos e devemos considerar propostas formuladas aqui, com seriedade, como estas, da responsabilidade de um conjunto de colaboradores do blogue Ladrões de Bicicletas.
A possibilidade de renovar as políticas do Partido Socialista passa por todos os seus militantes, mas a maior responsabilidade é naturalmente do seu secretário-geral, José Sócrates.
Considero positivos os sinais de preocupação com a unidade do Partido Socialista que manifestou na sua recente entrevista à SIC, bem como, a equipa que escolheu para a elaboração da moção que vai apresentar no próximo Congresso do Partido Socialista, constituída por um conjunto de quadros políticos de qualidade, com diversas sensibilidades e trajectórias dentro do Partido Socialista. A escolha de António Costa para coordenar a equipa é particularmente significativa, se tivermos em conta a recente entrevista ao DN, a que me referi aqui.
A crise do capitalismo financeiro tem levado o governo a adoptar medidas e políticas, que tornam mais nítida as diferenças entre as políticas do neo-liberalismo, protagonizado pelo PSD e as defendidas pelo PS que se inserem na tradição do socialismo democrático e da social-democracia.
Se a crise do capitalismo financeiro tornou clara a razão dos que advogam um Estado com maior intervenção na regulação da vida económica e como instrumento crucial de promoção da igualização das condições e oportunidades de vida, não podemos também deixar de estar atentos às alterações em curso na ordem política internacional.
O Partido Socialista tem que defender um papel mais activo e relevante para Portugal na cena política internacional.
Luís Amado deu um contributo fundamental para a definição desse novo papel na abertura do Seminário Diplomático, realizado esta semana. Defendeu segundo refere Luísa Meireles aqui, afirmando que é urgente «abrir novos rumos, definir pontes e estabelecer relações para “se tornar relevante” nos espaços que integra. Pois. É essa a questão fundamental nas relações internacionais, a relevância.
Amado deu mais uma achega: CPLP, mundo em português, agenda transatlântica: E acrescentou-lhe uma novidade: no século XXI, atlantismo quer dizer Atlântico Norte e Sul, América Latina e África. A relevância de Portugal passa por aqui
».
Estamos num momento político decisivo e temos que escolher o que consideramos fundamental para a concretização das esperanças legítimas dos portugueses e dos que vivem e trabalham em Portugal, nos tempos difíceis marcados pelo colapso do capitalismo financeiro, privilegiando o que consideramos essencial.
Se há muitas questões sobre as quais não tenho certezas, há, contudo, uma que para mim é uma evidência. Não há semelhança entra as políticas face à crise defendidas pelo Partido Socialista e as que seriam concretizadas pela direita.
Mas não interessa fazer apenas diferente e melhor do que a direita, o Partido Socialista tem de ser mais ambicioso e exigente com a sua acção.
Sophia de Mello Breyner Andresen, no poema “A Forma Justa”, integrado no livro, «Dia Claro», escreveu:
«…Sei que é possível construir a forma justa
De uma cidade humana que fosse
Fiel à perfeição do universo…»
Não devemos ambicionar menos do que contribuir para a construção da forma justa da cidade.

terça-feira, janeiro 06, 2009

AGENDA CULTURAL (12 )

CRC
CENTRO DE REFLEXÂO CRISTÃ


CICLO DE COLÓQUIOS 2009-1º

Estado e Religiões – Liberdade, Autonomia e Laicidade
Dia 13 de Janeiro de 2009, terça-feira, às 18h30m
José de Sousa e Brito
Luís Salgado de Matos

Local: Centro Nacional de Cultura - Galeria Fernando Pessoa
Largo do Picadeiro, nº 10-1º. Lisboa.
(metro Baixa-Chiado)

O CRC promoveu em 2008, as Conferências de Maio sobre o tema “Questões sobre Laicidade”, que pode consultar no blogue do CRC cujo endereço é http://www.centroreflexaocrista.blogspot.com/

domingo, janeiro 04, 2009

SHIRIN EBADI E A LUTA PELOS DIREITOS HUMANOS NO IRÃO

Na passada semana verificaram-se novas ameaças e provocações contra Shririn Ebadi, a advogada iraniana, a quem foi atribuído o Prémio Nobel da Paz em 2003 pela sua luta pela democracia e pelos direitos humanos, especialmente das mulheres e das crianças, como foi sublinhado pela Comissão Nobel aqui.
Shirin Ebadi é uma mulher muçulmana e uma advogada corajosa, que podem conhecer melhor aqui e de que recomendo a leitura do livro “O Despertar do Irão”, escrito em colaboração com Azadeh Moaveni, publicadas em português pela Guerra e Paz, em 2007.
Recordo estes factos para situar a escalada de provocações e de repressão, que tem tido como alvo Shirin Ebadi e os defensores dos direitos humanos no Irão, que Marco Oliveira tem denunciado com frequência no blogue Povo de Bahá, como podem ver, designadamente aqui e aqui.
Na passada quinta-feira, a casa de Shirin Ebadi foi atacada por centena e meia de manifestantes, que conseguiram arrancar o placard do seu escritório de advocacia que se localiza no mesmo edifício e escrever provocações nas paredes, antes de dispersarem após a intervenção da polícia.
Aproveitando o clima de emoção gerado pela intervenção israelita em Gaza, que ela, condenou, tem prosseguido a ofensiva que a visa silenciar e a todos os defensores dos direitos humanos. O pretexto é acusá-la de apoiar, contra todas as evidências que demonstram que não é verdade, o que qualificam «crimes cometidos pela América e por Israel».
Estamos perante acções de intimidação programadas, que temos motivos para recear que não fiquem por aqui se não se verificar uma atitude generalizada de denúncia e de repulsa por parte das instituições e da opinião pública internacional. O seu escritório de advocacia tinha sido alvo de buscas três dias antes da verificação da manifestação de que foi alvo. O Círculo de Defesa dos Direitos Humanos (Defenders of Human Rights Center- DHRC), associação filiada na Federação Internacional dos Direitos Humanos, de que é a personalidade mais conhecida internacionalmente, foi objecto de buscas sem mandato judicial e encerrado pela polícia no dia 21 de Dezembro de 2008, como o Observatório para a Protecção dos Direitos Humanos denunciou aqui.
A luta desta mulher e dos seus companheiros iranianos deve merecer a nossa solidariedade. Temos razões para perceber bem o significado dessa luta. Quando penso nas pressões e dificuldades com que Shirin Ebadi se confronta para defender cidadãos injustamente perseguidos, recordo-me da profunda emoção que senti, quando era um jovem advogado estagiário, e pude assistir à defesa de um grupo de jovens no Tribunal Plenário, pelo advogado Francisco Salgado Zenha, perante a parcialidade dos juízes e a omnipresença dos agentes da PIDE /DGS na sala.
A FIDH já tinha denunciado em Setembro de 2007 a repressão da sociedade civil na República Islâmica do Irão e que se tem traduzido em inúmeras violações dos direitos humanos dos defensores dos direitos das mulheres, de sindicalistas, de estudantes e de jornalistas, bem como na aplicação da pena de morte por motivos políticos e por crimes sexuais, incluindo execuções por lapidação, como podem ver aqui.
Os direitos humanos são espezinhados no Irão e é por esse motivo que se verificou o encerramento do Círculo de Defesa dos Direitos Humanos (Defenders of Human Rights Center - DHRC), a única ONG independente no Irão que se batia pelos direitos humanos.
A União Europeia deve continuar a pressionar o Irão, como fez a presidência francesa nos seus últimos dias, manifestando ao embaixador do Irão a sua reprovação face às ameaças inaceitáveis que pesam sobre Shirin Ebadi e responsabilizando as autoridades iranianas pela sua segurança.
Cabe-nos, como cidadãos, denunciar a violação dos direitos humanos no Irão e continuar atentos e informados sobre a evolução desta situação.
Quando Shirin Ebadi e os membros do Círculo de Defesa dos Direitos Humanos lutam pelos direitos humanos, não estão apenas a lutar pelos direitos dos iranianos, estão também a lutar pelos nossos direitos. Os direitos humanos são universais e os avanços e os recuos no respeito pelos direitos humanos num país com a importância política e estratégica do Irão, têm fatalmente reflexos nos países europeus.
Imgem retirada do sítio da FIDH (Federação Internacional dos Direitos do Homem) aqui.