sábado, dezembro 12, 2009

LISBOA E A CONFERÊNCIA DE COPENHAGA PARA AS ALTERAÇÕES CLIMÁTICAS

A COP15 - Conferência das Nações Unidas para as Alterações Climáticas a decorrer em Copenhaga reveste-se de grande importância para o nosso futuro colectivo.
As cidades são grandes consumidoras de energia. Lisboa representa 7% do consumo nacional de energia, sendo que cada lisboeta consome 3,1 tep (tonelada equivalente de petróleo), quando a média nacional é de 2,5 per capita.
Em matéria de ambiente é fundamental pensar globalmente, mas agir localmente, através da concretização da Estratégia Energético-Ambiental, produzida pela Agência Municipal de Energia e Ambiente, Lisboa E-Nova, que pode conhecer aqui.
Estão já em concretização em Lisboa, medidas que são um contributo positivo para dar localmente um apoio aos objectivos prosseguidos pela Conferência de Copenhaga. Refiro, concretamente, a valorização da eficiência energética para efeitos de redução de IMI; a instalação de sensores de luminosidade na iluminação pública; o aumento das faixas BUS, bem como a implementação da bicicleta na Cidade; o início em 2009 de lavagem de ruas com águas provenientes das ETARs de Lisboa, estando em curso, a colocação da 1.ª rede de canalização para água reciclada a partir das obras da ETAR de Alcântara; a aprovação pela Câmara e pela Assembleia Municipal das medidas preventivas do Plano Verde que permite dotar a Cidade de um mecanismo de amenização climática, essencial para assegurar o funcionamento do sistema hídrico e a sua drenagem para a atmosfera.
Existem em Lisboa competências científicas e técnicas e crescente sensibilidade dos cidadãos, que nos permitem sermos parte na solução
Informar os cidadãos dos objectivos e das medidas já tomadas ou em vias de serem concretizadas é fundamental para continuar a fazer avançar a consciência cívica nesta matéria.
Todos somos chamados a contribuir para reduzir o consumo descontrolado de combustíveis fósseis e melhorar, simultaneamente, a qualidade de vida dos cidadãos.
Devemos considerar como boas práticas as iniciativas públicas e particulares que têm sido tomadas em diferentes áreas desde a redução do desperdício de papel ou que promovem a eficiência energética dos edifícios, incluindo com a microprodução de energia solar; ou o aumento da Rede do Metropolitano, que se traduz numa maior competitividade do transporte público.
Lisboa, como grande capital europeia, tem de estar vitalmente implicada neste debate e adoptou uma estratégia energético-ambiental, que é um contributo para os objectivos prosseguidos pela Cimeira da Copenhaga.
O futuro da Conferência de Copenhaga não depende apenas dos acordos os dos Estados, depende das políticas das cidades, como Lisboa, e da determinação dos seus cidadãos em que sejam prosseguidas com coerência as estratégias energético-ambientais já definidas.
Imagem cedida gentimente por José Rosa do blogue KJ - KAYE AND JOSE - AMAZING PHOTOS

D. MANUEL CLEMENTE - PRÉMIO PESSOA 2009

A atribuição do Prémio Pessoa 2009 a D. Manuel Clemente é uma boa notícia.
Sobre a personalidade de D. Manuel Clemente, António Marujo deixou no Público aqui as referências fundamentais.
Como referiu Mário Soares, justificando o seu voto favorável a esta atribuição, D. Manuel Clemente é “ uma figura de grande abertura de espírito e um homem de diálogo”, tendo acrescentado “ independentemente de ser bispo e de ser uma grande figura da Igreja portuguesa, é um grande português”.
D. Manuel Clemente foi director do Centro de Estudos de História Religiosa da Universidade Católica Portuguesa, tendo desenvolvido uma actuação muito positiva, como foi assinalado por Bruno Reis, no blogue Regra do Jogo aqui; é actualmente Presidente da Comissão Episcopal da Cultura, Bens Culturais e Comunicações Sociais eleito em 5 de Abril de 2005 pela Pastoral da Cultura cuja actuação pode ser avaliada pela consulta deste excelente sítio aqui.
Licenciado em História pela Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa e em Teologia pela Universidade Católica Portuguesa, tendo publicado livros importantes, designadamente “Portugal e os Portugueses”, a que me referi aqui, o livro “Um Só Propósito”, apresentado por António Barreto como podem ver aqui.
D. Manuel Clemente é membro da Comissão Consultiva da Comissão Nacional para as Comemorações da República, como podem ver aqui.
A unanimidade que reuniu deve ter a ver com o facto de ser um historiador que não instrumentaliza a História. Sem negar os conflitos do passado, não os utiliza para criar novos e artificiais conflitos, tem tido uma preocupação de mediar os do presente, de rigor e de estabelecer pontes.
O novo Prémio Pessoa 2009, para além dos méritos que lhe mereceram a sua atribuição, é um homem bom, culto, justo e socialmente empenhado.

quarta-feira, dezembro 09, 2009

AGENDA CULTURAL (30)

COLÓQUIO CRC

CARITAS in VERITATE- UMA RESPOSTA À CRISE
com
Carlos Santos
Pe. José Manuel Pereira de Almeida
Rui Almeida
Dia 15 de Dezembro, terça-feira, pelas 18h30m
Local: Centro Nacional de Cultura, Galeria Fernando Pessoa, Largo do Picadeiro, n.10, 1.º,Lisboa (Metro-Baixa-Chiado)
Entrada Livre

domingo, dezembro 06, 2009

MUÇULMANOS, CIDADÃOS E EUROPEUS

A proibição da construção de novos minaretes na Suiça provocou muitas condenações a que já me referi aqui e aqui, mas sobretudo colocou no centro do debate a presença dos muçulmanos nos diferentes Estados europeus.
Os muçulmanos não são apenas uma nova presença transitória nas sociedades europeias após um hiato de alguns séculos, nem a sua presença resulta apenas da descolonização e da imigração. Como escrevi no Anuário JANUS aqui em 2007, os muçulmanos estão há vários séculos presentes em várias regiões e Estados europeus. A herança cultural europeia não tem apenas uma matriz judaica, cristã ou iluminista. O contributo de muçulmanos para a cultura de diferentes países tem sido rasurada pelas histórias oficiais, mas nem por isso se pode apagar a importância desse contributo como sabem os autarcas mais atentos de muitas cidades portuguesas, como Lisboa, e tem vindo a ser valorizado por um conjunto de historiadores.
O excelente trabalho publicado hoje por Alexandra Lucas Coelho, no Público, mostra que a “Discriminação contra os muçulmanos está a aumentar em toda a Europa”, como podem ler aqui, tendo por base um estudo do Open Society Institute sobre Muçulmanos na Europa - Um relatório em 11 Cidades da União Europeia.
A islamofobia, como todas as outras formas de racismo e discriminação, tem de ser combatida com determinação por todos os democratas por respeito pelos princípios informadores do Estado de direito democrático, não é um exclusivo dos muçulmanos, nem sequer dos crentes de outras confissões religiosas. Abdool Karim Vakil tem toda a razão quando escreve aqui que "não é uma tarefa que cumpre apenas aos muçulmanos, e sim a todos os cidadãos comprometidos em criar e conviver numa sociedade e num mundo mais justo.”
Verificou-se a condenação dos resultados do referendo por parte não apenas de organizações muçulmanas, mas também católicas, evangélicas, judaicas e por democratas sem qualquer identificação religiosa. Daniel Oliveira no Arrastão aqui, é uma excelente ilustração do contributo de inúmeras personalidades não religiosas para este combate em contraste com a falta de atenção e sensibilidade de outros bloggers e comentaristas.
As discriminações que atingem os muçulmanos são a repetição de discriminações de que outros foram já vítimas no passado. Peter Stilwell, responsável pelo Departamento para o Diálogo Inter-Religioso do Patriarcado de Lisboa, referiu, ao Público de 1/12/2009, a “semelhança com o facto de, antes de 1910, templos não católicos não poderem estar voltados para a rua – a Sinagoga de Lisboa é exemplo. E as igrejas protestantes não podiam ter sinos”.
A construção de uma democracia inclusiva na sociedade portuguesa e nas sociedades europeias não é uma conquista irreversível, é uma tarefa de cidadania de todos os dias, resolvendo os novos desafios que se colocam. O estudo da Open Society Institute, que não conheço ainda, referido por Alexandra Lucas Coelho, formula recomendações que vão na linha da inclusão dos muçulmanos como cidadãos.
Considero boas propostas as recomendações referidas por Alexandra Lucas Coelho aqui dirigidas a combater a discriminação a nível local, nacional e europeu e que se podem sintetizar desta forma: assegurar o acesso à habitação em todos os bairros com uma boa mistura “étnica e religiosa”; facilitar a naturalização e a dupla nacionalidade; encorajar princípos anti-discrimatórios a nível europeu na educação, habitação, transportes, bens e serviços, e conseguir apoio popular para essas medidas; dispor de informação estatística a nível europeu para combater a discriminação e criar um fórum de cidades para a troca de informações e experiências.
Permito-me acrescentar breves conclusões pessoais. É necessário aprendermos a viver, com naturalidade, uns com os outros no trabalho, no lazer, na vida política ou cultural, convivermos, estabelecermos laços sem discriminações.
Perceberemos rapidamente que os muçulmanos, como os não-muçulmanos não são uma categoria abstracta, mas uma realidade plural, são o Ahmed, o José, o Karim, a Latifa, a Maria, a Faranaz. Em breve perceberemos, contra os preconceitos, que o Joaquim é muçulmano, o Hussein é católico e a Maria é indiferente em matéria religiosa.
É este o desafio e o privilégio de vivermos em cidades cosmopolitas como Lisboa.
Imagem da Mesquita Central de Lisboa retirada do sítio da Comunidade Islâmica de Lisboa aqui .

terça-feira, dezembro 01, 2009

REGISTO (ACTUALIZADO)

SUIÇA INTERDITA A CONSTRUÇÃO DE NOVOS MINARETES
A vitória da proibição da construção de novos minaretes no recente referendo suiço não tem provocado muitos protestos entre nós.
Saúdo a posição de Daniel Oliveira no blogue Arrastão aqui , de Sofia Loureiro dos Santos no Defender o Quadrado e na Regra de Jogo aqui e Marco Oliveira no Povo de Bahá aqui.
É com satisfação que constato que, quer os Bispos Católicos da Suiça, quer o Osservatore Romano consideram como desde logo afirmei que "Il «no» svizzero a nuovi minareti danneggia la libertà religiosa " de onde retirei a imagem que ilustra esta posta, como podem ler aqui.