domingo, janeiro 10, 2010

MANUEL ALEGRE - CONFIAR NOS PORTUGUESES E NO FUTURO DE PORTUGAL

A entrevista de Manuel Alegre ao semanário Expresso de 9 de Janeiro de 2009, que podem ler na íntegra aqui, é excelente como já foi dito, por exemplo, por Ana Paula Fitas em A Regra do Jogo aqui. No mesmo blogue vale a pena ler também Francisco Clamote aqui e JNR aqui.
Faz críticas certeiras à tentação governamental de Cavaco Silva, mas o ângulo pelo qual analisa criticamente a sua actuação como Presidente radica numa óptica mais alargada, que tem em conta a crise nacional, a crise económica, as dificuldades que experimentam os portugueses, e particularmente as novas gerações, o lugar de Portugal no Mundo.
Manuel Alegre foi sempre um homem de esquerda, um socialista, que procurou ser a voz dos que não têm voz, mas que se preocupou também simultaneamente com o futuro de Portugal.
Manuel Alegre sabe que foi o povo que em todos os momentos difíceis assegurou o futuro de Portugal e, desta forma, o seu próprio futuro. Na linha do que já tinha dito, por exemplo, no jantar com apoiantes recentemente realizado no Entroncamento, como podem ler aqui, afirmou, designadamente, na entrevista: “Isto custou muito a fazer, foi sempre uma magnífica obra de vontade através dos séculos”.
Manuel Alegre aponta linhas de acção que há que aprofundar estrategicamente: “Vi o Lula em Copenhaga a falar português e a citar o Padre António Vieira se calhar o Quinto Império é o império cultural e da língua. Essa é a força de Portugal! Não se resolvem os problemas da economia sem orgulho ou confiança no país, se as novas gerações andam de estágio em estágio e os melhores ficam na precariedade ou abandonam o país.”
Um Presidente para Portugal não precisa de pretender ser um primeiro-ministro nº 2, mas, como afirma: “Deve ter uma filiação nos valores históricos e culturais do país e saber ler e interpretar o país. Pensar o impossível e ver o que não é visível. E isso não é poesia, é a função de um PR, ter capacidade de antecipação, ser ousado nas intervenções e decisões sem que isso signifique substituir-se ao Governo”.
Manuel Alegre leva a sério a crise económica e cita Vitorino Magalhães Godinho. Temos sublinhado desde o início que esta é uma crise sem precedentes e que as respostas têm que continuar a ser construídas.
Referimos no início da crise a análise de Immanuel Wallerstein aqui e ainda recentemente que Luís Amado aqui, faz também uma leitura séria do significado desta crise, que não é uma crise cíclica do capitalismo, mas uma crise na ordem económica e política mundiais.
Manuel Alegre deixa algumas pistas de reflexão sobre a crise, desafia-nos “a pensar isto de outra maneira, mais ousada, não no sentido de reeditar a revolução de Outubro, mas de aprender a viver com outra sobriedade e austeridade e conjugar o papel do Estado com a da iniciativa privada”.
Manuel Alegre tem confiança nos portugueses, sabe identificar com clareza os problemas concretos das diferentes classes, o contributo que dão para assegurar o nosso futuro colectivo, como referiu detalhadamente no seu discurso do Entroncamento, a obrigação que temos de legar aos nossos filhos “um país mais justo e mais fraterno, mais próspero e mais decente do que o país em que vivemos hoje.”
Manuel Alegre sabe que a história não se repete e que uma nova candidatura presidencial ocorrerá num contexto e tempo diferentes e por isso o modo tem de ser diferente.
É cada vez mais evidente que na área do Partido Socialista, por todo o País incluindo as Regiões Autónomas são cada vez mais os dirigentes e militantes que consideram necessária a sua candidatura, que ele tem condições como ninguém para dialogar à esquerda e reunir um alargado apoio, mas que também entre as pessoas do centro e da direita, que querem um país decente e recusam os profetas da desgraça nacional à Medina Carreira, existe muita gente capaz de o apoiar.
Como escreveu João Rodrigues do blogue Ladrões de Bicicletas no jornal i que pode ler aqui, referindo-se às ideias que têm sido defendidas por Manuel Alegre: "O combate por um socialismo que só pode ser democrático e a defesa de um patriotismo progressista e cosmopolita, ancorado numa ideia de comunidade política inclusiva, revelam uma aguda percepção de que só as ideias podem superar interesses mal orientados.”
Estou certo, que todos os que confiamos nos portugueses e no futuro de Portugal temos um encontro marcado com Manuel Alegre.

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