domingo, fevereiro 07, 2010

OUVI DO VENTO DE MANUELA SILVA

Manuela Silva foi sempre uma economista comprometida com a erradicação da pobreza e da exclusão social, com a satisfação das necessidades básicas de todos os cidadãos e com a defesa da igualdade de direitos da mulher.
É também uma militante católica que foi, designadamente, presidente do CRC (Centro de Reflexão Cristã), presidente da Comissão Nacional Justiça e Paz e que é presidente vitalícia da Fundação Betânia, que pode conhecer melhor aqui
O livro Ouvi do Vento editado pela Pedra Angular reúne um conjunto de escritos do mês que Manuela Silva foi colocando no sítio da fundação Betânia de Maio de 2003 a 2009. Continuam a ser colocados novos escritos neste sítio, como este de Fevereiro de 2010 que pode ler aqui, continuando disponíveis em suporte informático, os que foram reunidos neste livro.
São textos de reflexão pessoal, que não perderam actualidade e animados “por um fio condutor em sintonia com os propósitos da Fundação Betânia” como refere Manuela Silva em jeito de apresentação.
O livro é um convite «ao recentramento no essencial, para que seja possível espreitar novos horizontes e decantar as perguntas que sempre assomam na nossa existência».
Percebe-se ao lê-lo, o que anima a persistente luta de toda a vida pela justiça e pela paz de Manuela Silva.
Mas o livro convoca-nos a que estejamos atentos a ouvir o vento.
O texto, intitulado Um modo de vida justo, tem como epigrafe uma frase de Dom Helder Câmara, incitando-nos a «colocar o ouvido no chão para escutar a realidade».
Como referiu Isabel Allegro de Magalhães, na inteligente apresentação que fez que podem ler aqui, intitulada “Aprendizagens do ouvido: o chão e o vento, à volta de Ouvi do Vento de Manuela Silva”, nalguns casos na Bíblia o vento surge como figura do Espírito de Deus.
É um livro a ler e a reler, por qualquer ordem, ou ao acaso, no metro, no autocarro ou no comboio, à espera numa fila, num intervalo de trabalho, numa mesa de café frente ao rio/mar, em qualquer circunstância em que possamos, por uns momentos pormo-nos à escuta do essencial.
Para quem vive apressado, pressionado pela urgência de transformar o mundo, é preciso dizer, que esta escuta a que Manuela Silva nos convida, não nos distrai do que estraga a vida das pessoas, as esmaga ou oprime, mas pelo contrário dá-nos uma nova energia para sermos “seres de protestação” na expressão de Leonardo Boff, cujo sentido, desenvolve num dos textos.
A vida, é contudo, muito mais que as nossas lutas por muito importantes que sejam, é necessário descobrirmos a vida que nasce do silêncio, a sabedoria de ir para além da ansiedade, a necessidade de ter centro em cada lugar e circunferência em lugar nenhum, porque somos seres de desejo e uma insaciável sede de infinito sede de infinito nos habita, para citarmos os títulos de alguns destes textos.
São escritos que nos tornam mais atentos ao quotidiano, que nos incitam «a perscrutar os sinais portadores de futuro que toda a realidade esconde, mesmo aquela que se apresenta mais sombria, como a doença, a morte, a falta de segurança afectiva ou a injustiça social».
Manuela Silva partindo de acontecimentos, de reflexões que cita em epígrafe, constrói um livrinho de meditações para usar a expressão com que Manuela Silva designa o livro de Bernard Feillet L’ arbre dans la mer.
As suas reflexões prolongam muitas vezes e entrelaçam-se com outras citadas em epígrafe ou no texto de Tolentino de Mendonça, João Sotomayor, Bernard Rey, João Paulo II, Bernard Feillet, Tauler, Frei Bento Domigues,O.P., Angelus Silesius, Thomas Merton, Jen-Yves Leloup, Paul Ricoeur, Leonardo Boff, António Machado, Arthur Simon, Joan Chittister, Anselm Grun, Rosinha Darcy de Oliveira, Bento XVI, António Ramos Rosa, Daniel Faria, Rita Wemans, Dom Helder Câmara, José Augusto Mourão, Suzanne Marineau, Chamalú, índio Quechucua, para além de João, Mateus, de Miqueias, de Efésios ou de outros textos bíblicos.
Espero que este livro seja lido, citado, comentado, meditado, mastigado como pão fresco, que nos ajuda a construir um modo de vida justo e a na crise descobrir raízes de futuro para citar o título de outros dos escritos, nele reunidos.

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