quinta-feira, dezembro 23, 2010

MANUEL FRAZÃO (1937-2010)


O nosso amigo Manuel Frazão faria hoje anos, se não tivesse morrido no passado dia 1 de Novembro.
A sua vida e morte deixaram uma marca profunda nas pessoas que o conheciam. Durante semanas remeti-me ao silêncio sobre a sua morte, vivendo-a para dentro, mas hoje senti necessidade de deixar aqui estas breves palavras.
Manuel Frazão exerceu várias actividades profissionais ao longo da vida. Nos últimos anos, entre outras actividades foi realizador do 70x7.
Num artigo que assinou na agência ECCLESIA, intitulado Por detrás das câmaras, que podem ler aqui, escreveu, designadamente, que “Mais do que o brio profissional, é a consciência de estarmos a tocar a maravilha de gente de carne e osso, que o Espírito misteriosamente anima, sejam pobres ou doutores, excluídos da sociedade ou figuras de relevo” E acrescentava: “há sempre uma intromissão na esfera do privado que a imagem – longe de ser neutra – pode caricaturar, deformar, falsificar. E isto está muito para além do desejo de que o trabalho seja escorreito e honesto”.
O Manuel foi apanhado por um cancro traiçoeiro, que o haveria de vitimar. O que me surpreendeu no Manuel foi a forma como foi assumindo esse facto com naturalidade, fazendo os tratamentos sem grandes ilusões ou encarniçamento terapêutico, mas procurando viver o seu quotidiano o mais como até aí, enquanto lhe foi possível.
Os momentos em que estivemos com ele e com a Teresa transmitiram uma grande serenidade. Era evidente que muito gostava muito da Teresa e que a queria poupar de todos os sofrimentos evitáveis. Sentíamos que o Espírito misteriosamente o animava, para parafrasear as suas palavras.
A morte é sempre uma experiência trágica, seja-se crente ou ateu. Creio que ninguém pode seriamente antecipar como a viverá. Como escreveu Jorge de Sena “De morte natural nunca ninguém morreu / Não foi só para a morte que nós nascemos (…)”. Também assim penso.
O Manuel viveu, apesar disso, a sua vida durante a sua doença e a sua morte com grande serenidade e paz, procurando minimizar o sofrimento, através do recurso a cuidados paliativos. Percebia-se que acreditava efectivamente na ressurreição da carne e na vida eterna.
Lembrei-me a este propósito, da frase do Padre António Vieira, que acrescentou à repetida afirmação “homem lembra-te que és pó” a outra “pó lembra-te que és homem”.
Cada pessoa é um mistério, mas creio que o Manuel Frazão enfrentou a morte com serenidade, porque sabia quem era e se encontrava em paz consigo mesmo.
O Manuel Frazão era uma pessoa única e irrepetível, como cada um de nós, que nos trouxe uma presença, palavras e gestos que continuarão a inspirar-nos e a interrogar-nos, até nos reencontrarmos com ele, assim esperamos, no dia sem ocaso.

domingo, dezembro 12, 2010

PORTUGAL: OS NÚMEROS

Portugal mudou radicalmente no último meio século e mudou para melhor. Para quem viveu este últimos cinquenta anos de olhos abertos, não resta qualquer dúvida. A afirmação, que por vezes se ouve de que de que isto está tudo na mesma ou aquela outra de que não foi para isto que fizemos o 25 de Abril, é pura conversa de treta.
As dificuldades da presente crise, o desemprego, o sobreendividamento, a pobreza e exclusão, a fome que atingem alguns cidadãos, são motivos de grande preocupação e de intervenção exigente. Nada disto altera, contudo, o facto de que Portugal, mudou para melhor, em muitas áreas, nalgumas de forma acelerada, noutras não tanto quanto se desejaria.
Apesar disso, como escrevem Maria João Valente Rosa e Paulo Chitas no livro “Portugal: Os Números” o balanço é positivo” e acrescentam: “Seja pela acelerada quebra da mortalidade infantil, pelos largos ganhos de esperança de vida à nascença, pela integração social das mulheres, pela maior proporção de tempo e de recursos disponíveis para o lazer e para o consumo cultural, pela democratização do ensino ou pelo alargamento da protecção social valeu a pena viver estas cinco décadas em Portugal”. Dizem mesmo: “Há razões para nos orgulharmos destas mudanças”.
Este livro está ligado à Pordata - base de dados de Portugal Contemporâneo, que podem conhecer melhor aqui na presentação de Maria João Valente Rosa ou no Facebook aqui, que foi o seu ponto de partida.
A Pordata disponibiliza a todos os interessados que a podem consultar através da Internet aqui, informação permanentemente actualizada, que se inicia na generalidade dos casos em 1960.
Este livro é construído a partir dessa informação estatística disponível até Abril de 2010, analisando algumas das tendências da nossa vida social, económica e cultural, organizadas em torno de cinco grandes temas: População; Estado Social (no qual se incluem as áreas de Educação, Conhecimento, Cultura, Saúde e Protecção Social); Trabalho e Rendimentos; Justiça; Famílias e Modos de Vida.
É uma síntese clara e rigorosa que muito deve à qualidade científica de Maria João Valente Rosa e Paulo Chitas, cujos currículos resumidos podem ver aqui.
Permite uma viagem de cinco décadas através da evolução verificada em diversos aspectos da sociedade portuguesa. Os autores escolheram os aspectos que consideram mais importantes e não há dúvidas que o livro é um excelente “contributo para o conhecimento e a reflexão informada sobre a sociedade portuguesa”.
Naturalmente que há áreas em que as transformações são motivo de particular orgulho. Refiro-me, por exemplo, à diminuição da mortalidade infantil, às evoluções verificadas em matéria de saúde pública, educação, ou às radicais alterações no estatuto das mulheres.
Apesar dos progressos verificados “permanecem traços fortes de atraso económico, como referem os autores, de desigualdades sociais, de ineficiências que ainda nos envergonham quando nos comparamos como outros países”. Um dos exemplos dados como dignos de nota pela negativa é o da Justiça., referindo-se, designadamente, o critério da celeridade processual, que piorou desde os inícios dos anos 60. É uma constatação objectiva, com consequências para os direitos dos cidadãos e inclusive para a eficiência económica, mas que tem um outro lado, a justiça deixou de ser, como nos anos 60, um assunto de acesso reservado a uma parcela restrita da sociedade.
Nesta como em qualquer outra área objecto de análise, o livro dá-nos uma base para definir metas e políticas.
O livro mereceria ser complementado por outro que analisasse o processo de construção da cidadania democrática a partir do 25 de Abril de 1974, “a política que nos trouxe a liberdade, a paz e a democracia”, a que se referem os autores.
Como cidadão, não posso ignorar, para além destes dados estatísticos, o privilégio que tem sido viver no mais longo período de liberdade, tolerância e paz da história de Portugal.

domingo, dezembro 05, 2010

PARA UMA NOVA ECONOMIA

A situação económica difícil que se vive em Portugal e em muitos outros países da União Europeia, bem como, as opções que têm sido impostas pelas instituições europeias e pelos mercados, deixam uma margem de manobra estreita aos Estados.
Aprovado o Orçamento de Estado para 2011, verifica-se o receio de que tenha efeitos recessivos, mesmo que contribua para conter a especulação financeira sobre a dívida externa.
O Governo apostou nos últimos dias numa agenda do crescimento, pretendendo fomentar o aumento das exportações, através de uma activa diplomacia económica, e em colaboração com as empresas que contribuem positivamente para a balança comercial. Aposta simultaneamente, na requalificação urbana. O que é também essencial porque vem ao encontro de necessidades efectivas e contribui para fazer face à crise do sector da construção civil que foi dramaticamente afectado pela paragem das grandes obras públicas, lançando milhares de trabalhadores no desemprego.
Não podemos, contudo, desistir de procurar construir uma estratégia de desenvolvimento humano sustentável que assegure um futuro melhor para todos.
Esta é uma tarefa de todos, do governo e dos restantes órgãos de soberania, mas também de todos os cidadãos. Urge procurar novos caminhos para uma nova estratégia de desenvolvimento humano e sustentável a prazo, mesmo no quadro da margem estreita de que dispomos.
As propostas de liquidação do Estado Social que a direita propõe, como o demonstrou o programa de revisão constitucional do PSD ou as reformas no mercado laboral que nos pretendem impor a nível europeu, são o contrário do que precisamos.
Como escreveu Pedro Adão e Silva num artigo intitulado Euro Fim, publicado no Expresso, de 4 de Dezembro de 2010: “A recomendação do eurogrupo para Portugal fazer reformas no seu mercado de trabalho é mais um passo no delírio político europeu”.
É preciso abrir espaço a correntes teóricas com propostas diferentes. Nesta linha, consideramos que a Petição Para Uma Nova Economia, que pode ler aqui, que foi preparada pelo Grupo de Trabalho Economia e Sociedade da Comissão Nacional Justiça e Paz, cujos primeiros subscritores pode ver aqui, dá um contributo importante para discutir questões muito importantes e por isso subscrevemo-la também.
Considero necessário, designadamente: “ (…) descobrir políticas que compatibilizem medidas de curto prazo com estratégias de desenvolvimento a prazo; que promovam o emprego e a valorização do trabalho humano, abdicando de desregulamentações contraproducentes do mercado de trabalho destinadas a transferir custos para os trabalhadores; que levem a economia a produzir bens e serviços que satisfaçam as reais necessidades humana; que reindustrializem garantindo a sustentabilidade ambiental; que combinem eficiência com igualdade substantiva, promovendo a participação motivada de todos; que aproveitem as potencialidades dos mercados e ao mesmo tempo limitem a sua expansão para o campo dos bens e serviços públicos; que assegurem a ética dos negócios; que coloquem o sistema financeiro ao serviço da economia de todos”.
Serão estes objectivos realistas no actual contexto nacional e europeu? Creio que o facto de tantos e tão reputados economistas estarem entre os seus primeiros subscritores deverá levar-nos a presumir que são objectivos que podem e devem ser prosseguidos.
O debate deste manifesto terá, em qualquer caso, um efeito positivo no actual debate político.
Não precisamos de mais neoliberalismo, como pretende a direita nacional e europeia, mas sim de uma estratégia de desenvolvimento humano e sustentável a prazo.
A petição Para Uma Nova Economia que pode ser subscrita online aqui e a reflexão dos economistas que animam o blogue A Areia dos Dias que pode ver aqui, é, pelo contrário, um contributo desinteressado que não deve ser ignorado na procura das melhores soluções para os problemas que defrontamos e para construir o futuro.

quarta-feira, dezembro 01, 2010

AGENDA CULTURAL (43)



Em busca dum sentido: ateísmo e crença na construção da pessoa que ama é o tema central do Fórum que o Secretariado Diocesano de Educação Cristã de Coimbra (SDEC) vai realizar no dia 4 de Dezembro de 2010, a partir das 10h00, no Colégio São Teotónio, em Coimbra, dirigida a pais, catequistas e professores.