domingo, fevereiro 27, 2011

ENCONTRO HOMENAGEM A MARIA IOANNIS BAGANHA

10-Abertura-Comissão de Honra
Manuel Jarmela Palos-Director Nacional do Serviço de Estrangeiros e Fronteiras
José Reis-Director da Faculdade de Economia da Universidade de Coimbra
Pedro Hespanha-Director Executivo do Centro de Estudos Sociais
Rosário Farmhouse-Alta Comissária para a Imigração e Diálogo Intercultural
Charles Buchanan-Administrador da Fundação Luso-Americana para o Desenvolvimento
10h45-Primeiro Painel-Cidadania e Diversidade Cultural
Moderação:Joana de Sousa Ribeiro
Constança Urnano de Sousa-Imigração e ideal democrático de um "demos" inclusivo: os conceitos de estrangeiroo, nacionalidade e cidadania.
Lucinda Fonseca-Modelos de relacionamento e representação do espaço em três bairros multiétnicos de Lisboa: uma análise exploratória
David Justino-Portugal: migrações e dualismo social:uma perspectiva de longa duração
Rainer Baubok-(vídeo-comunicação) Acess to Citzenship: The Portuguese exception to European trends
11h45-Intervalo
12h00-Segundo Painel-Política de Imigração, Organização e Associativismo
Moderação:Pedro Goís
Ana Paula Beja Horta-Participação Política e Cívica dos Imigrantes na àrea Metropolitana de Lisboa
José Carlos Marques-Narrativas de gestão de fluxos: a política de imigração portuguesa
Margarida Marques-As intituições de origem imigrante enquanto agentes de articulação de interesses
Rinus Penninx-(vídeo-comunicação) A brief in Memoriam for Maria Ioannis Baganha by Rinus Penninx, Coordinator of the IMISCOE Research Network
13h00-Almoço
15h00-Terceiro Painel-Emigração, Imigração e Mercado de Trabalho
Moderação:Carlos Nolasco
Rui Pena Pires-Relações entre Emigração e Imigração em Portugal
João Peixoto-Imigração, Emprego e Mercado do Trabalho em Portugal: os dilemas do crescimento e o impacto da recessão
Jorge Malheiros-Um regfresso ao Futuro: Portugal, país de emigração
Han Entzinger-(vídeo-comunicação)- The PEMINT project revisited
16h00-Intervalo
Moderação: Maria João Guia
Graça Fonseca-Sobrerrepresentação de estrangeiros nas prisões e discriminação judicial: que relação?
José Leitão-A protecção contra o racismo e a discriminação racial de estrangeiros e imigrantes
Maria Engrácia Leandro-A saúde dos imigrantes em terra estrangeira
Joaquín Arango-(vídeo-comunicação) Working with Maria Baganha on immigration in Southern Europe: a pleasure and a privilege
17h30-Sessão de Encerramento
MARIA IOANNIS BAGANHA(momento de homenagem através da video-comunicação de 2007)- Gestão de fluxos : um processo de aprendizagem lenta na UE
DALILA ARAÚJO-Secretária de Estado da Administração Interna

domingo, fevereiro 20, 2011

O TESOURO ESCONDIDO DE JOSÉ TOLENTINO DE MENDONÇA

Já tive oportunidade de falar aqui da poesia de José Tolentino de Mendonça como uma poesia inclusiva e fraterna.
Quero hoje falar de O Tesouro Escondido, livro recentemente publicado e que inaugura a nova colecção Poéticas do Viver Crente editada pela Paulinas Editora. Tem como subtítulo Para uma arte da procura interior e é um livro de espiritualidade bíblica de um crente que vive numa permanente atitude de procura interior e de diálogo com a cultura contemporânea.
Esse diálogo não significa silenciamento do que separa a visão cristã do mundo das meras opiniões, verdades parciais e provisórias, de paixões, aparências e modas. A vida não são cascas de cebola, para usar a sua metáfora, modos de ver, perspectivas. A visão cristã identifica-se mais com uma batata, na qual “… mesmo escondida por uma crosta ou por um véu, está uma realidade que é substanciosa e vital”.
O começo deste livro recordou-me um polemista católico muito conhecido Chesterton, que, aliás, nunca é citado, mas este não é um livro de polémica cultural. As tentações de cinismo e desleixo no que se refere à vida espiritual não se manifestam apenas nos outros, mas dentro de nós. É sobretudo, um convite a “adentrarmo-nos” na busca de Deus, para além de uma espiritualidade vaga com que muitas vezes nos contentamos. O livro inquieta-nos, desinstala-nos dos nossos comodismos e ideias feitas, para nos colocar numa atitude de procura do tesouro escondido.
É um livro de iniciação espiritual, que nos convida a fazer silêncio dentro de nós, a reaprendermos a arte da procura, acendendo a luz, varrendo as poeiras e desordens que se acumularam na nossa vida, a caminho da alegria da reconciliação.
Esta espiritualidade radica na Bíblia, mas tem em conta os contributos de escritores, intelectuais e pensadores contemporâneos, como Simone Weil, Sophia de Mello Breyner Andresen, Bento XVI, T.S. Eliot, Paul Claudel, Etty Hilleseum, Soren Kierkegaard, Dietrich Bonhoeffer, Erri de Luca, passando pela tradição mística de S. João da Cruz e do peregrino russo, a Charles de Foucauld.
Lê-se sem dificuldade, mas coloca-nos perante as nossas questões vitais, convidando-nos, nomeadamente, a reconciliarmo-nos com a beleza e a rezar até à impossibilidade de rezar.
É um livro de bolso, para ler e voltar a ler, modificando a ordem dos capítulos. Não é um texto literário, apesar de estar muito bem escrito, é um alimento espiritual, que nos desafia a vivermos dando a vida, a contrariarmos o individualismo dominante, a entendermos “a nossa vida como serviço e dedicação aos irmãos”, pois “Nós só perdemos aquilo que não damos”. A sua leitura é sempre situada e feita a partir da “circunstância” de cada um para usar a expressão de Ortega y Gasset.
A nossa vida é uma paisagem onde Deus se vê, como diz José Tolentino de Mendonça, que acrescenta “cada vida é única, há algo de único que cada um pode testemunhar sobre Deus”.
Como livro de espiritualidade dá um lugar central à oração e ao encontro com Deus para quem temos de reservar “em cada dia um quinhão para Deus e Deus só”. Não nos iludamos, não podemos dedicar a Deus uma parte do nosso tempo e vivermos o resto do tempo como se Deus não existisse.
José Tolentino de Mendonça é muito claro: “A oração cristã é ser e estar diante de Deus, colocar-se por inteiro e continuamente diante da sua presença, com uma atenção vigilante Áquele que nos convida a um diálogo sem cesuras”.
Este livro pode ser considerado a contra-corrente relativamente a algumas tendências culturais que marcam a nossa pós-modernidade, como é evidente desde logo na metáfora da cebola e da batata com que se inicia, ou na critica do individualismo com que termina, mas é sobretudo um livro que nos põe em questão, que nos convida à conversão, o que é bem mais exigente.
A dificuldade de rezar, de aceitar e dar perdão fica bem evidente nas palavras do escritor italiano Erri Luca no livro Caroço de azeitona que cita: “… Não posso admitir ser perdoado, não sei perdoar aquilo que cometi. Eis as minhas palavras de tropeço, pelas quais permaneço fora da comunidade dos crentes”.
É por não escamotear que “na oração, em todas as vidas existem limites e pedras de tropeço” que José Tolentino de Mendonça é credível quando nos incita a procurar o tesouro escondido, “o próprio amor de Deus”, e nos diz que ele está ao alcance dos que o procuram, de cada um de nós.

domingo, fevereiro 13, 2011

O PCP, O BE E AS MOÇÕES DE CENSURA AO GOVERNO

Às recentes notícias sobre o apoio do PCP a uma eventual moção de censura do PSD, que entusiasmou Marcelo Rebelo de Sousa, seguiu-se o anúncio por parte de Francisco Louçã de que do BE irá apresentar uma moção de censura.
O Governo e o PS reagiram naturalmente alertando para os custos graves que a instabilidade política faria pagar ao País, designadamente no que se refere à difícil situação económica e financeira.
É natural e legítimo que outros partidos, designadamente, o PCP e o BE que têm programas e agendas políticas muito diferentes do Governo do PS, tenham divergências profundas relativamente às políticas prosseguidas pelo Governo em várias áreas. Têm inúmeros meios de manifestar essas posições e inclusive de procurar modificar as suas políticas. Não é admissível é que recorram à arma final da moção de censura que, a ser aprovada, abriria caminho à queda do Governo.
Como afirmou Manuel Alegre aquiNão quero acreditar que um partido de esquerda, por muito grandes que sejam as suas divergências, esteja interessado em substituir este governo por um de direita”. Manuel Alegre colocou o dedo na ferida. O eleitorado socialista, mesmo aquele que se não reconhece nalgumas políticas do Governo do PS não perdoará a nenhum partido de esquerda que seja “muleta da direita” para abrir caminho a um governo da direita.
Não são, contudo, apenas os socialistas que assim reagem, são militantes e eleitores bloquistas e comunistas, é, em geral, o povo da esquerda. A posição do PCP tem vindo a ser objecto de “clarificações”, sendo a imprensa acusada de a ter deturpado, como se pode ver aqui.
A iniciativa da apresentação de uma moção de censura por parte do BE é ainda mais incompreensível e irresponsável. Tenho lido na Internet muitos comentários críticos de eleitores e militantes do BE, como este aqui.
Esta posição do BE produziu já efeitos negativos, descredibilizou o BE como um partido com que o PS possa vir a contar para discutir políticas públicas, para fazer parte de uma esquerda que governe.
É significativo que os socialistas que sempre criticaram qualquer possibilidade de diálogo e colaboração com o BE, vieram não apenas recordar o contributo negativo que o BE está a dar para a evolução dos juros da dívida soberana, mas também a impossibilidade de colaboração entre os dois partidos, como podem ver aqui. Francisco Louçã deu uma mão aos que sempre consideraram que só o PSD é um parceiro possível.
O desemprego, a precariedade, as desigualdades sociais, a legislação laboral, o funcionamento do sistema de justiça, e muitas outras, são questões fundamentais que tem que estar na agenda do debate político à esquerda, mas não podemos fazer de contas que não existe o problema do desequilíbrio orçamental, que podemos pura e simplesmente ignorar o contexto europeu, mesmo quando defendemos a necessidade de ser duro na defesa dos interesses nacionais e dos trabalhadores portugueses, na negociação do novo quadro institucional que está a emergir tendo como ponto de partida e pretexto os problemas que o euro enfrenta.
Também no que se refere aos debates duros que se travam neste momento na União Europeia em torno do euro e da evolução institucional, o anúncio da apresentação da moção pelo BE, é totalmente irresponsável.
A moção do BE só pode vir a ser, como escreveu Daniel Oliveira no Expresso de 12/02/2011 “pueril ou irresponsável”. Muitos no BE, e em geral na(s) esquerda(s) se a moção for aprovada não lhe perdoarão que dessa forma tenha aberto o caminho “à direita mais extremista que já esteve na iminência de vencer eleições em Portugal”.
Como foi sublinhado por André Freire aquiO BE é co-responsável por aquilo que chama «a maioria orçamental» / «as políticas de direita»(…)”. Em primeiro lugar, temos um sistema político desequilibrado: a direita (PSD vs CDS) é capaz de cooperar; a esquerda (PS vs BE e PCP) não, nunca foi, excepto em questões marginais da luta política.
(…) o sistema partidário nasceu inclinado para a esquerda, mas vive enviesado para a direita

Não tinha que ser assim, não tem que ser assim.

domingo, fevereiro 06, 2011

NUNO TEOTÓNIO PEREIRA - UM CIDADÃO GENEROSO E EXEMPLAR

Nuno Teotónio Pereira, como afirmou Jorge Sampaio na homenagem que ontem, lhe foi promovida na Igreja do Sagrado Coração de Jesus, em Lisboa, não é apropriável por ninguém e por nenhum grupo em particular.
Chamo a vossa atenção para o relato desta iniciativa por José Pedro Castanheira no Expresso online aqui.
Foi bom ver tanta e tão variada gente, vinda de todo o país para lhe testemunhar a amizade, a gratidão que lhe têm e para festejar com ele muitos combates que travaram ao seu lado e que contribuíram para o aprofundamento e consolidação da democracia.
Nem poderia ser de outra maneira se pensarmos que toda a vida tem sido um cidadão generoso e exemplar, inspirando e participando nas mais diversas iniciativas, como foi referido, por Joana Lopes, Jorge Sampaio, Mário Brochado Coelho e Júlio Pereira.
Nuno Teotónio Pereira continua a inspirar-nos, com os seus 89 anos, para não aceitarmos tudo o que de intolerável estraga a vida de tantos cidadãos, tendo-nos dito: “Apelo a todos para que, em conjunto ou individualmente, façam o que for necessário, mesmo com risco, para abar com situações de clamorosa desumanidade que existem no nosso país, muitas vezes ao nosso lado”.
A homenagem de ontem a Nuno Teotónio Pereira que pretendeu ser também alargada às gerações que animaram as cooperativas culturais Pragma (Lisboa) e Confronto (Porto), centrou-se, particularmente no seu empenhamento na luta democrática e anticolonial nas últimas décadas da ditadura, o que levou à prisão de Caxias, onde se encontrava no dia 25 de Abril de 1974.
Na sessão de homenagem foi lançado por Mário Brochado Coelho o livro “Confronto - Memória de uma Cooperativa Cultural, Porto 1966-1972”, com a qual Nuno Teotónio Pereira, que foi dirigente da Pragma também colaborou.
A homenagem teve lugar na Igreja do Sagrado Coração de Jesus, de que foram autores os arquitectos Nuno Portas e Nuno Teotónio Pereira e que podem conhecer melhor aqui.
Nuno Teotónio Pereira que teve um papel de destaque no MRAR (Movimento de Renovação da Arte Religiosa), que não foi um movimento só de arquitectos, mas também de pintores e de músicos, como referiu no colóquio em que participou no CRC (Centro de Reflexão Cristã) aqui.
Nuno Teotónio Pereira foi responsável por edifícios que marcam a imagem de Lisboa, como, por exemplo, o edifício de habitação na Rua General Silva Freire, n.º 55 a 55 A, Olivais Norte, com António Pinto Freitas - Prémio Valmor, 1976, o edifício de escritórios e comércio na Rua Braancamp n.º 9, em Lisboa, conhecido por Franjinhas, com João Braula Reis - Prémio Valmor, 1971, e a já referida Igreja do Sagrado Coração de Jesus, Com Nuno Portas - Prémio Valmor, 1975. Foi por isso com inteira justiça que António Costa lhe entregou a Medalha de Mérito Municipal da Câmara Municipal de Lisboa - Grau Ouro e vai editar um conjunto de textos e artigos da sua autoria mais um contributo como arquitecto e cidadão para esta cidade que tanto ama.
Permitam-me uma reflexão mais pessoal, Nuno Teotónio Pereira é um cidadão comprometido, totalmente alheio à lógica de carreira política, que tem levado tantos à abdicação das suas convicções. Sendo um excelente profissional, que foi dirigente do MES (Movimento de Esquerda Socialista) é hoje um discreto, mas empenhado militante do Partido Socialista. Seria natural que a importância do seu contributo fosse reconhecida por parte dos seus camaradas. Assim não aconteceu até hoje, com excepção de Jorge Sampaio e António Costa, que enquanto Presidentes da Câmara Municipal de Lisboa sempre valorizaram o seu contributo como arquitecto e cidadão. Nuno Teotónio Pereira continuou a participar com naturalidade em processos internos de debate e eleição que visaram reforçar a cidadania dos militantes, mesmo sabendo que muitos desses combates não seriam vitoriosos.
Nuno Teotónio Pereira é um cidadão generoso e empenhado, um homem bom e justo e por isso divulgar o seu trajecto profissional, cívico, e cultural, é não só um acto de justiça, mas de oportuna e necessária pedagogia política.

A fotografia de Nuno Teotónio Pereira foi retirada do blogue do CRC.