sábado, abril 19, 2014

SE DEUS FOSSE UM ATIVISTA DOS DIREITOS HUMANOS


 Boaventura de Sousa Santos procura neste livro resposta para os desafios colocados aos direitos humanos, quando confrontados com os movimentos que reivindicam a presença da religião na esfera pública.
Boaventura de Sousa Santos constrói a sua argumentação a partir da constatação de que, por um lado, a grande maioria da população mundial não é sujeita de direitos humanos e de uma pergunta “(…) sendo os direitos humanos a linguagem hegemónica da dignidade humana (..) os grupos sociais oprimidos não podem deixar de perguntar se os direitos humanos sendo parte  da mesma hegemonia que  consolida e legitima a opressão, não poderão ser usados para a subverter? (…) de modo contra-hegemónico?” O que conduz a outras perguntas, nomeadamente, sobre que outras linguagens de dignidade existem no mundo e se  existindo, são compatíveis com a linguagem dos direitos humanos.
É a partir deste pondo de partida que se dá o encontro crítico com as teologias políticas inspiradas pelo cristianismo, islamismo e judaísmo, bem como uma análise sobre as zonas de contacto dos direitos humanos com as teologias políticas.
Segundo Boaventura de Sousa Santos “Estes movimentos, crescentemente globalizados, e as teologias políticas que os sustentam constituem uma gramática de defesa da dignidade humana que rivaliza com a que subjaz aos direitos humanos e muitas vezes a contradiz. As conceções e práticas convencionais ou hegemónicas dos direitos humanos não são capazes de enfrentar esses desafios nem sequer imaginam que seja necessário fazê-lo.
São particularmente estimulantes do debate teológico e político os termos da resposta que procura dar aos desafios referidos, que designa como uma conceção pós-secularista dos direitos humanos, e o laço de cumplicidade que considera possível estabelecer entre o que denomina os direitos humanos contra-hegemónicos e teologias progressistas.
A luta contra o sofrimento humano injusto, contra a trivialização do sofrimento humano nos nossos dias, parece poder permitir ligar o retorno de Deus a um humanismo insurgente, trans-moderno, concreto.
São muitas e contraditórias as teologias políticas, que se afrontam atualmente, das teologias fundamentalistas às que denomina teologias progressistas, as quais considera “podem ajudar a recuperar a «humanidade» dos direitos humanos”.
O seu argumento resume-se nestes termos.”(…) um diálogo entre os direitos humanos e as teologias progressistas é não só possível como é provavelmente um bom caminho  para desenvolver  práticas verdadeiramente interculturais e mais eficazmente emancipadoras (…) o resultado será uma ecologia de concepções de dignidade humana, algumas seculares, outras religiosas(…)”.
 Assentando num amplo conhecimento, inclusive, das teologias de libertação é, pela força das coisas, um livro inacabado. Muitas páginas estão-lhe a ser acrescentadas, o que é também um elogio, pelas lutas libertadoras no mundo, designadamente, de hegemonia islâmica, conduzidas por mulheres e homens animados pela fé islâmica, mas também por outros, igualmente muçulmanos, cristãos, ou agnósticos, que baseiam o seu combate libertador em leituras seculares do islão, que desconfiam das teologias políticas islâmicas mesmo as que têm um registo libertador.
É um livro de leitura e de debate incontornável. Pretendemos sinalizar a sua importância, concordando com a linha geral da sua argumentação.

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